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15/08/2014 - 16h14m

A história do Bairro da Mooca contada por suas curiosas ruas e personagens

Agência Hoje 
Reprodução
Rua da Mooca nos dias de hoje.
Rua da Mooca nos dias de hoje.
  • Rua da Mooca no ano de 1955.
  • Hipodromo
  • O estádio atualmente
  • Campo da Javari em 1930
  • Antigo Contonoficio
  • Contonoficio de Crespi antigamente, inaugurado em 1897 e fechou em 1963. O prédio atualmente é um hipermercado.
  • Mooca

São Paulo (Agência Hoje/Gabriel Grunewald) - A região onde seria erguido o bairro da Mooca foi citada pela primeira vez em 1556, em um decreto da governança de Santo André da Borda do Campo. O comunicado dizia que todos estavam “obrigados a participar da construção da ponte do rio Tameteai (Tamanduateí)”.

A ponte era necessária para que pudesse ser feita a ligação entre a zona leste e a freguesia da Sé. Aquela área próxima ao rio Tamanduateí, na época era habitada pelos índios da tribo Guaiana, que deixaram muitas marcas no bairro, inclusive, seus próprios nomes em diversos logradouros.

Segundo estudiosos a palavra “Mooca” deriva do Tupi Guarani e tem duas possíveis versões: MOO-KA (ares amenos, secos, sadios) e MOO-OCA (fazer casa), sentido mais aceito, que era usado para denominar os primeiros habitantes brancos que construíam suas simples casas, às margens do rio Tamanduateí – que inclusive começava a ser retificado.

Com o fim da transposição do rio, ocorrido no século XIX, o adensamento da região se intensificou e ela foi paulatinamente se integrando ao centro da cidade. Até meados do século XIX o Rio Tamanduateí era o principal protagonista dos desdobramentos naquela área, porém um novo personagem vindo do além-mar apareceu para mudar o cenário: o imigrante.

Além das mudanças econômicas estruturais ocorridas em todo mundo, São Paulo se beneficiou muito das riquezas trazidas pelo café. Contendo um mercado consumidor e um sistema escravista anacrônico, a mão de obra imigrante foi incentivada a vir trabalhar em terras paulistanas.

Muitas famílias de imigrantes morariam na Mooca por conta da facilidade propiciada pelos trilhos, instalados em 1868 pela São Paulo Railway, que ligava São Paulo ao porto de Santos. As casas que antes eram construídas a beira do rio deram lugar às fábricas que começaram a ser edificadas ao lado da linha férrea, pela conveniência em transportar matérias primas, combustíveis e mercadorias.

No início eram fábricas de massas como, por exemplo, a Carolina Gallo, Rosália Médio e Romanelli. Posteriormente o casal Antônio e Helena Zerrener fundaram a Companhia Antarctica Paulista. Daí pra frente as fábricas se diversificaram e grandes industriais como Rodolpho Crespi e Matarazzo resolveram se estabelecer na Mooca.

Todas essas indústrias e muitas outras utilizavam a mão-de-obra imigrante, que no período entre guerras migrou em massa mais uma vez, em busca de melhores condições de vida. A maioria das famílias que aqui aportavam desciam em Santos e eram trazidas para a Casa da Imigração (hoje Museu dos Imigrantes).

Não por acaso, a Casa de Imigração estava no coração da Mooca, já que os operários e suas famílias preferiam se instalar nas proximidades de seus novos empregos, impulsionando o comércio local, desenvolvendo a região, e principalmente, criando um sentimento de comunidade. E os laços se estreitavam ainda mais quando os trabalhadores tinham um tempo de folga para se divertir ou encontrar os amigos e familiares.

No bairro que se erguia, foi criado O Jóquei Clube da Mooca, um importante hipódromo que comportava 1.200 aficionados e curiosos que vinham acompanhar o turfe. Por volta de 1920 estreou o Cine Teatro Moderno, o Cine Santo Antônio e muitos outros cinemas e teatros.

Desde aquele tempo os moradores já tinham predileção por flanar pela Avenida Doutor Rafael de Barros, para reencontrar colegas, ir até a casa de vizinhos para reuniões ou simplesmente comer algo na cantina de um patrício e dar umas voltas nessa nova casa, nesse novo bairro que acolhia e florescia com a combinação dos braços estrangeiros e dos que aqui já residiam.

No decorrer da história do bairro houve a atuação de muitos personagens: índios, brasileiros e imigrantes, que fizeram a Mooca naturalmente tornar-se um bairro único em São Paulo.

Cheia de sotaques e costumes, a Mooca carrega a singularidade de ainda haver entre seus moradores um sentimento de comunidade que persiste até os dias de hoje, e é passado de pai para filho. Por isso, cada Rua da Mooca tem uma história, e muitas residências e edifícios possuem memórias fantásticas, daqueles que um dia deixaram sua antiga terra e aqui vieram “fazer casa”.

Ruas e personagens Mooquenses

Rua da Mooca

A Rua da Mooca antigamente era uma rudimentar trilha feita pelos pés dos brancos, índios, animais e rodas de carros de boi que saíam da Freguesia Eclesiástica da Sé em direção aos vários destinos de São Paulo.

Para chegar nesta trilha era necessário descer a Rua do Carmo, chegar a Rua Tabatinguera – que em tupi significa “local de muito barro e abandonado” –, atravessar a ponte homônima, e enfim seguir até a Região da Penha, mais a leste de São Paulo.

Rua Javari

A palavra Javari tem origem indígena. Pelo tronco lingüístico tupi-guarani seu significado deriva de uma específica competição cerimonial desportiva religiosa que era cultuada pelos povos indígenas. Inspirado nessa concepção, o Conde Rodolfo Crespi resolveu fundar um estádio justamente nesta rua.

Conde Rodolpho Crespi foi um imigrante italiano que construiu um dos maiores grupos industriais em São Paulo. Incentivado por um amigo, ele resolveu abranger os negócios da família em terras brasileiras. Logo ao chegar, sua fábrica deu muito certo, e o Cotonifício, onde atualmente foi edificado um hipermercado, se expandia de maneira diretamente proporcional aos seus lucros com o ramo têxtil.

Dentro do Cotonifício, entre os funcionários nasceu o Clube Atlético Juventus, um dos mais queridos e icônicos clubes de São Paulo. Nos anos 60 o clube comprou o estádio da família Crespi, e merecidamente o nomeou com o nome de Rodolfo Crespi e fez do conde Presidente Honorário Perpétuo deste tão estimado time de futebol.

Rua Marina Crespi

A companheira do Conde também exerceu destacado papel na trajetória do bairro, muito devido a sua relevante participação em obras sociais voltadas à saúde dos operários paulistanos em um momento que a sociedade dava seus primeiros passos em questões de saúde pública.

Muitas de suas ações perduram até hoje, em edifícios doados pela família Crespi e que atualmente estão sob administração pública. Paralelamente ao seu papel humanitário, a Condessa também se destacou nas atividades empresariais da família, sendo vista como uma importante e criativa mulher de negócios.

A Igreja de São Miguel Arcanjo é um das muitas construções erguidas com coletas capitaneadas pela Condessa em cooperação com a comunidade. Pelas suas obras sociais e importância na vida de São Paulo, a Condessa é lembrada afetuosamente até hoje como merecedora de gratidão pela sociedade – e tem inclusive um projeto de gravação cinematográfica de sua biografia.

Avenida Paes de Barros

Esta avenida, símbolo da Mooca, homenageia o Barão Rafael Aguiar Paes de Barros, um importante político e fazendeiro, que tinha posse de terras que se estendiam da Vila Prudente até a Alpina. Formado em Direito, Rafael defendia causas humanitárias, como o fim da escravidão por exemplo.

Foi eleito vereador pelo Partido Republicano Paulista; e seu pai, o Barão de Itu, com o intuito de aplacar suas idéias progressistas, resolveu mandar o menino para a Europa a fim de abrandar esses pensamentos de abolição, ainda mais vindos de um rico herdeiro, que tinha suas riquezas provenientes da terra.

Ao voltar de sua viagem Rafael, aquietou seus pensamentos políticos, porém o rapaz voltou encantado com algo que vira no velho continente: as corridas de cavalo. E mesmo o Brasil passando por um período conturbado, Rafael resolveu abrir o Jockey Clube Paulistano (ou Hipódromo) que com o passar tornou-se um valorizado e bem sucedido empreendimento que atraía centenas de pessoas em suas disputas.

Rua dos Trilhos

Este logradouro faz menção aos trilhos de trem que contornavam o bairro e toda São Paulo. Instalados pela empresa São Paulo Railway, os trilhos eram as principais artérias que faziam pulsar o industrializado bairro da Mooca e toda São Paulo, ligando o até então isolado Porto de Santos a diversas cidades do interior paulista.

Em 1839 surgiu o primeiro projeto para a construção de uma ferrovia através da Serra do Mar, que por questões geográficas dificultava grandemente as conexões entre o litoral e o interior. O Barão de Mauá, industrial de propostas avançadas, usou do seu prestígio econômico e político para que a ferrovia saísse do papel.

Com o emprego de hábeis engenheiros e especialistas, os trilhos conseguem cruzar a Serra e pelas dificuldades do terreno, somente em 1867 (vinte e oito anos depois), os trajetos foram finalizados. A ferrovia São Paulo Railway tem Santos como seu marco zero e passa por diversos municípios como: São Paulo, São Caetano do Sul, Mauá, Ribeirão Pires, Jundiaí, Francisco Morato, Franco da Rocha e Caieiras.

SERVIÇO

Museu de Imigração do Estado de São Paulo

Endereço: Rua Visconde de Parnaíba, 1316 São Paulo-SP

Telefone: (11) 2692-1866

E-mail: museudaimigracao@museudaimigracao.org.br

Horário de Funcionamento: Terça a Sábado das 9h às 17h. Domingo das 10h às 17h. Quinzenalmente às sextas-feiras das 9h às 21h (encerramento da bilheteria 1h antes - às 20h).

Valor dos Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia entrada). Acesso gratuito aos sábados.

Antigo Cotonifício

Endereço: Av. Paes de Barros, 663

Estádio Conde Rodolfo Crespi

Endereço: Rua Javari, 117 - Mooca, São Paulo

Telefone: (11) 2292-4833

Clube Atlético Juventus

Endereço: Rua Comendador Roberto Ugolini, 20, São Paulo

Telefone: (11) 2271-2000

Segunda a Domingo das 8h às 22h

Paróquia São Miguel Arcanjo

Endereço: R. Taquari, 1100 - São Paulo

Telefone: (11) 2692-6798

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