Artigo 02 - Congresso Anuncia Novas Drogas para Pacientes de Câncer - Hoje São Paulo
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25/06/2013 - 09h04m

Artigo 02 - Congresso Anuncia Novas Drogas para Pacientes de Câncer

Agência Hoje/Dra. Silvia Regina Graziani 

NOVIDADES DO I CONGRESSO PÓS-ASCO 2013

REALIZADO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, NOS DIAS 21 E 22 DE JUNHO DE 2013

CÂNCER, A PREVENÇÃO É O MELHOR REMÉDIO

Artigo escrito pela Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56.925 *

O Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clinica de 2013 foi realizado em Chicago, no inicio do mês de junho e foram discutidos e apresentados muitos trabalhos promissores na área de oncologia.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clinica, seccional Rio de Janeiro, organizou um Congresso Pós-ASCO para atualizar os médicos brasileiros que não tiveram oportunidade de participar do Congresso americano.

Durante dois dias foram discutidos os estudos apresentados neste importante Congresso. Segue um resumo dos pontos mais relevantes e ainda promissores para a pratica do dia a dia, pois requerem mais tempo de observação para se tornarem pratica usual.

TÓPICO 01 - MELANOMA MALIGNO

Novas Drogas e Grandes Esperanças

O Melanoma Maligno é um dos tumores mais agressivos de pele e embora sua incidência seja baixa, quando ocorre geralmente a evolução é invariavelmente para doença avançada.

Ate o momento não disponibilizamos de tratamento eficaz que seja capaz de aumentar o tempo para a doença recidivar ou evoluir para metástases.

Na ASCO de 2013 tivemos muitas novidades promissoras, embora ainda experimentais, mas com grandes perspectivas e expectativa para os oncologistas de incorporá-las na prática usual.

Estão em andamento estudos experimentais com novos anticorpos monoclonais direcionados para as células tumorais do melanoma:

- Atacando diretamente a célula tumoral que apresenta mutação em um gen BRAF 600 E – Dabrafenibe e Trametinibe, que agem diretamente na célula tumoral evitando a progressão da divisão celular nas células que apresentam esta mutação, pois esta mutação estimula a célula a ficar em divisão celular contínua.

- Moleculas ou drogas que ativam o sistema imunológico: são drogas que ativam os linfócitos CD8, direcionando esses a atacarem as células tumorais, as destruindo evitando que essas formem o tumor.

São as moléculas: Ipilimumabe, Lambrolizumabe, Nivolumabe.

Ainda estamos em fase experimental dessas moléculas e aparentemente nos ensaios clínicos algumas são muito toxicas.

Aguardamos novos estudos para o fechamento das conclusões que parecem muito promissoras.

TÓPICO 02 - SARCOMAS

Novidades no diagnostico dos Sarcomas

Os Sarcomas são tumores muito raros, porém o diagnóstico é muito diferente de um tipo para o outro. Hoje se tem o conhecimento das alterações moleculares dos Sarcomas e isso é muito importante para a determinação do prognóstico da doença e das chances destes tumores responderem ao tratamento quimioterápico.

Hoje não é mais aceito o diagnostico anatomo patológico sem a complementação do exame de imunohistoquimica, pois esta ferramenta auxiliará o oncologista a escolher a melhor terapia.

TÓPICO 03 - CÂNCER DE PRÓSTATA

Novas informações no diagnostico do Câncer de Próstata precoce

Para o diagnóstico do câncer de próstata é necessário que se faça biópsias da próstata e a novidade é que 13 fragmentos são suficientes para esta análise e quando ocorrer suspeita de recidiva da doença, o melhor exame a ser solicitado é a Ressonância Nuclear Magnética.

TÓPICO 04 - CÂNCER DE OVÁRIO

Muitas expectativas no tratamento sistêmico do Câncer de Ovário

O Câncer de Ovário é uma neoplasia relativamente pouco frequente em nosso meio, sendo o câncer de mama e colo de útero muito mais frequentes, porém em alguns países da Europa, como o Reino Unido, é a neoplasia mais frequente e que causa maior número de mortes por câncer em mulheres.

Foi muito discutido durante uma manhã no evento Pós-ASCO e foram apresentados estudos experimentais muito promissores para o contrôle do carcinoma de ovário avançado, uma vez que aproximadamente 70% das pacientes são diagnosticadas em estádios III e IV.

Um dos estudos apresentados foi o estudo GOG 152 do uso de quimioterapia neo-adjuvante (antes da cirurgia), seguido de cirurgia e quimioterapia complementar.

O objetivo deste estudo foi de reduzir a massa tumoral após biopsia e determinação do tipo histológico do tumor, para posteriormente, após 3 a 4 ciclos, a paciente ser submetida a cirurgia de citrorredução, ou seja reduzir o máximo possível o volume tumoral.

A conclusão preliminar do estudo ainda é que esta técnica deve ser utilizada em casos especiais e avaliar pontualmente cada paciente, mas se mostrou promissora porque a taxa de sobrevida das pacientes que realizaram quimioterapia neo-adjuvante foi semelhante a das pacientes que apresentavam doença de menos volume, ou seja em estágios mais inciais.

Também foram apresentados mais quatro estudos: EORG, CT MEC, IVOG e CHORIO, todos a respeito de quimioterapia neo-adjuvante em estágio clínico IIIC e IV de neoplasia de ovário e a conclusão de todos esses estudos foi que a indicação de quimioterapia neo-adjuvante pode ser indicada em:

- diagnostico confirmado anatomo patológico por biópsia

- tumores com tamanho maior a 2 cm, próximos a artéria mesentérica

- presença de metástases múltiplas extra-hepáticas ou extra-abdominais maiores de 32 cm

- pacientes idosas ou com outros problemas clínicos graves

- quando a expectativa da extensão da cirurgia for maior que quatro horas

- ocorrer extensão para a serosa do intestino maior que 1,5 cm.

- Outros estudos apresentados foram a respeito de quimioterapia adjuvante.

Os estudos GOG 0262, MITO 07 e OV 21 entre outros, a respeito da quimioterapia adjuvante em dose densa, ou seja como a toxicidade da quimioterapia com Paclitaxel associado a Carboplatina é muito alta, então estudaram a possibilidade de fracionar a dose do Paclitaxel para semanal, na primeira, segunda e terceira semana, a cada 21 dias.

Outro estudo muito promissor foi da associação do Bevacizumabe que é um agente anti-angiogênico, a quimioterapia paliativa de primeira linha no carcinoma de ovário avançado.

A associação deste anticorpo monoclonal elevou as chances de resposta à quimioterapia e à manutenção deste fármaco após a sexta quimioterapia também aumentou as chances da doença ter uma recidiva mais tardia.

Novos estudos devem esclarecer se a dose de 7,5 mg/kg é melhor que 15 mg/kg.

TÓPICO 05 - CÂNCER DE MAMA

Quimioterapia neo-adjuvante para o Câncer de Mama

O Câncer de Mama é o mais frequente entre a maioria das mulheres do mundo e no nosso meio o mais frequente em incidência e mortalidade.

Muitos estudos são realizados para o tratamento desta neoplasia e no evento foram discutidas as novidades em vários estudos clínicos.

O que pode-se concluir é que o Câncer de Mama deve ser necessariamente selecionado pelo perfil imunohistoquimico e definido em um dos quatro sub-tipos básicos, baseados na expressão dos receptores hormonais e da expressão da proteína c-erb B2.

Os pacientes que apresentam sub-tipo que expressam a proteína do receptor c-erb B2 tem um benefício real com a associação do anticorpo monoclonal Trastuzumabe, que bloqueia este receptor de membrana celular inibindo a ativação da divisão celular.

Outro estudo apresentado foi o estudo GEPARDO que consiste em quatro estudos simultâneos com uso de Trastuzumabe e a conclusão foi que pacientes com maior índice proliferativo apresentam melhor resposta à quimioterapia neo-adjuvante, que são os sub-tipos de receptores hormonais negativos e triplo negativo.

Os subtipos determinados como Luminal A e B, que expressam receptores hormonais, são os que pior respondem a quimioterapia neo-adjuvante, devendo-se indicar esta modalidade de tratamento exclusivamente para casos isolados de tumores inoperáveis(tumores com mais de 5 cm).

Em relação a hormonioterapia adjuvante foi apresentado um estudo clinico do uso de Tamoxifeno por 10 anos, denominado de hormonioterapia estendida, que comparado a cinco anos mostrou beneficio no intervalo livre de doença, porém deve-se ter cautela na indicação e a indicação ainda está restrita a mulheres jovens com tumores agressivos.

TÓPICO 06 - CÂNCER DE PULMÃO

Novidades no diagnóstico molecular

O Câncer de Pulmão também é o mais frequente em nosso meio, sendo o primeiro em incidência e mortalidade em homens e o segundo em incidência em mulheres.

A novidade foi um estudo das alterações moleculares o que desta forma acabará acontecendo uma seleção dos pacientes através da avaliação desses genes envolvidos na carcinogenese dos tumores e a terapia alvo mais indicada para o bloqueio especifico.

Hoje se sabe que 53,9% dos Adenocarcinomas de pulmão estão relacionados a mutações não conhecidas, mas 1,7% está relacionado a mutação do gene EGFR, que possibilita que esses pacientes sejam tratados com uma medicação por via oral específica para o controle da doença e com alto índice de resposta com o uso de Gefitinibe ou Erlotinibe.

TÓPICO O7 - CÂNCER DE COLO DE ÚTERO

Associação de anticorpo monoclonal aumenta a chance de resposta a quimioterapia e radioterapia

O Câncer de Colo Uterino, hoje em quinto lugar em incidência no nosso meio, ainda acomete muitas mulheres, principalmente nas regiões norte e nordeste do pais.

A associação do medicamento anti-angiogenico - Bevacizumabe mostrou um aumento significativo no tempo de progressão da doença, quando associado a quimioterapia e a radioterapia.

O ganho deste intervalo foi de 3 meses, mas é o melhor resultado obtido em estudos clínicos atuais.

TÓPICO 08 - TUMORES NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Novos estudos promissores - Foi apresentado estudo em Glioblastoma

Estudo GLARIUS: associação de Radioterapia, Bevacizumabe e Irinotecano comparado com o tratamento padrão de Temozolamida e Radioterapia, que demosntrou melhores resultados em pacientes que apresentam uma alteração metabólica que não respondem a Temozolamida..

Outro estudo denominado de RTOG025 comparou um grupo com o tratamento padrão de Temozolamida associado a Radioterapia com pacientes tratados com Temozolamida, associado a Bevacizumabe e Radioterpia, que foi um estudo negativo, não acrescentando melhoria para o grupo experimental.

A conclusão desses e muitos outros estudos que tivemos, a oportunidade de sermos informados, nos prediz que há muitas novidades em um futuro muito mais próximo. Podemos imaginar que o conhecimento cada vez maior da biologia molecular dos tumores vai nos permitir fazer a seleção de pacientes para protocolos específicos e com maiores chances de controle das doenças, com menor toxicidade.

* A Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56925, é Medica Oncologista Clinica, com título de especialista em Cancerologia (1992). Residência Médica: Hospital do Câncer A. C. Camargo. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho – IAVC, São Paulo.

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