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25/07/2013 - 03h52m

Artigo 06 - Câncer: infecções bacterianas, virais e por parasitas

Agência Brasil/Dra. Silvia Regina Graziani 

ARTIGO 06 - CÂNCER: INFECÇÕES VIRAIS, BACTERIANAS E POR PARASITAS

Artigo escrito pela Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56.925

Infecções por vírus, bactérias e parasitas são responsáveis por aproximadamente 2.000.000 de casos de câncer no mundo ao ano, acometendo principalmente indivíduos jovens que vivem em países menos desenvolvidos.

Nos Estados Unidos, a prevalência é de que 1:25 pacientes com diagnostico de câncer advém de tumores associados a infecção; nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a prevalência é de que 1:4 pacientes diagnosticados com câncer é causado por agentes infecciosos.

Considerando-se que as infecções podem ser previstas, esses casos poderiam ser evitados com medidas profiláticas como melhora nas condições de higiene e de saneamento básico das moradias e a vacinação em massa diminuiria em muito essa incidência.

A associação de infecção com câncer é conhecida desde o século passado, quando se observou que alguns tipos de tumores eram contagiosos pelo contato entre humanos.

A primeira descrição desta associação entre infecção e câncer foi feita em 1958 pelo médico irlandês Denis P. Burkitt que foi trabalhar em Uganda, na África.

Ele observou uma grande prevalência de um tumor localizado na região do pescoço e face, que acometia mais crianças africanas e de forma endêmica.

Esta lesão foi inicialmente descrita como Sarcoma que envolvia partes moles na região da face. Posteriormente se verificou tratar-se de Linfoma.

Em 2001, a Organização Mundial de Saúde classificou essas lesões como neoplasia de Linfócitos B maduros – Linfoma de Burkitt, em homenagem ao medico irlandês que a descreveu pela primeira vez.

O Linfoma Burkitt é causado pela infecção de um vírus Epitein Baar.

Há 3 formas deste Linfoma:

-Variante endêmica que é contagiosa e ocorre na África Equatorial, local onde a Malária também é endêmica e há uma associação entre essas doenças.

-Variante esporádica, que acomete crianças e adultos de qualquer idade e não está associada ao vírus.

-Variante associada a infecção pelo vírus da Imunodeficiência Humana – HIV e é uma doença relacionada a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

O vírus Epitein Baar (EBV) é um vírus que muito frequentemente contamina os seres humanos e estima-se que 80% dos adultos tenham tido contato com este vírus.

O vírus Epitein Baar infecta uma célula do sangue denominada de Linfócito do tipo B.

A maioria das infecções é assintomática, mas pode ocorrer a infecção aguda que é a Mononucleose infecciosa, uma doença benigna.

Em algumas pessoas, principalmente crianças com idade mediana de 7 anos e africanas, o vírus Epitein Baar ao infectar essas células, ocorre o desenvolvimento do Linfoma de Burkitt.

Praticamente 100% dos Linfomas de Burkitt em crianças africanas tem no genoma o DNA do vírus Epitein Baar.

Outro tumor relacionado com a infecção do vírus Epitein Baar é o carcinoma de rinofaringe, um tipo de tumor relativamente raro em nosso meio e também endêmico na África.

Nos carcinomas de nasofaringe que ocorrem em nosso meio, raramente encontra o DNA do vírus Epitein Baar

A forma de contato desta doença é física. O vírus Epitein Baar é transmitido pela saliva e objetos contaminados como copos, escova de dentes e talheres.

Crianças são geralmente assintomáticas, enquanto que adultos e adolescentes quando contaminados desenvolvem Mononucleose.

A prevenção desta infecção é feita evitando o contato com pessoas infectadas, uma vez que a infecção se dá pela saliva.

Outra doença viral infecciosa causadora de câncer é a Infecção pelo vírus HPV - Papiloma Vírus Humano que é o causador de uma doença sexualmente transmissível muito frequente e comum entre homens e mulheres em todo o mundo.

Há mais de 200 tipos de HPV e cada grupo causa um tipo de lesão que vão desde as verrugas vulgares de pele, às verrugas da região genital denominadas de condilomas.

Os subtipos 16, 18, 31, 30, 46 e 58 são os responsáveis pelo desenvolvimento dos tumores no colo uterino, sendo os principais os subtipos 16 e 18.

A prevenção deve ser com o uso de preservativos durante a relação sexual. No caso do preservativo masculino, a prevenção é parcial pois muitas áreas ficam expostas e podem contaminar. No caso dos preservativos femininos, a proteção é mais eficaz.

Há vacinas profiláticas para o HPV , registradas pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e são comercialmente disponíveis:

-vacina quadrivalente - Gardasil(Merdk Sharp & Dohme) – que confere proteção para os subtipos 6, 11, 16 e 18.

-vacina bivalente - Cervarix(GlaxoSmithKline) –para os subtipos 16 e 18.

Fontes:

-Instituto Nacional do Câncer – InCa

www.inca.gov.br/conteudo_view.asp

Outro vírus causador de câncer é o vírus da Hepatite B cuja infecção se dá por contato com sangue ou secreção corporal contaminada pelo vírus. Desta forma transfusões de sangue com sangue contaminado, relação sexual sem uso de preservativo e o compartilhamento de agulhas e seringas contaminadas de sangue, são as principais formas de contaminação da Hepatite B.

O período de incubação varia entre 30 e 180 dias, em média, após a contaminação.

Os principais sintomas geralmente são inespecíficos como mal estar, dores no corpo, dor de cabeça associado a coloração da pele amarelada com urina escura e fezes claras.

Em aproximadamente 99% dos casos em 6 semanas, esses sintomas melhoram sem sequelas e a pessoa desenvolve imunidade.

Poucas pessoas desenvolvem a Hepatite B crônica, que é mais frequente em crianças pequenas, alcoólatras e pessoas imunodeprimidas.

Nessas pessoas a evolução se dá para cirrose hepática e câncer no fígado, chamado também de Hepatocarcinoma.

O diagnóstico é feito por exame de sangue com a dosagem da sorologia para hepatite B e as provas da função hepática.

O tratamento das Hepatites B é sintomático, ou seja medicamentos apenas para melhora dos sintomas.

A Hepatite B crônica é tratada por infectologistas e com medicamentos antirretrovirais específicos.

Sempre deve ser feita em Centro de Referencia de doenças infecciosas e a medicação é fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A Prevenção é feita através de medidas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis com o uso de preservativos durante a relação sexual.

Há vacinas profiláticas para o vírus da Hepatite B , registradas pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e são comercialmente disponíveis.

O esquema de vacinação consiste em três doses: 0, 1 ou 2 e 6 meses. A primeira dose deve ser aplicada com 12 horas de vida e é indicada de forma universal para todas as crianças, adolescentes e adultos que não estão imunizados.

Também devem ser vacinados todos os profissionais da área da saúde.

A transmissão do vírus da Hepatite B é muito maior que o da AIDS e está em aproximadamente 30%.

O Carcinoma Hepatocelular ocorre em frequência maior em homens (3 homens: 1 mulher).

Na Europa e Estados Unidos a idade media de acometimento é entre 60 e 70 anos, enquanto que em outras áreas do mundo a incidência se da em pessoas muito mais jovens, por volta de 30 e 50 anos.

Fontes:

www.imunizarvacinas.com.br

portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualiza

O Vírus Herpesvirus Saimiri é o vírus encontrado nos tumores relacionados a Síndrome da Imunodepressão Humana – SIDA que são os Sarcomas de Kaposi, na forma clássica.

Esses tumores se caracterizam por manchas violetas-avermelhadas que crescem na pele e mucosas de indivíduos contaminados pelo vírus da Imunodeficiência Humana.

São os tumores denominados de Sarcoma de Kaposi Herpes Vírus(KSHV) na forma clássica.

São prevalentes em pacientes com SIDA e é mais frequente em homens homossexuais, sugerindo a via de contaminação inter-humana fecal-oral.

Rev Ass Med Brasil 1999; 45(1): 55-62

Em relação a infecção bacteriana associada ao desenvolvimento de câncer temos a bactéria Helicobacter Pylori.

Esta bactéria está presente no estômago e está associada ao câncer gástrico, principalmente quando diagnosticado em indivíduos velhos, onde o câncer gástrico está associado a fatores ambientais e a dieta, diferente dos indivíduos mais jovens que desenvolvem câncer gástrico, onde os fatores genéticos são predisponentes.

A bactéria Helicobacter Pylori acomete 50 a 60% da população adulta e leva a uma alteração no tecido gástrico chamado de metaplasia. Esta alteração leva a menor produção de ácido e este fator favorece a proliferação desta bactéria no estômago.

O ácido gástrico nos protege do desenvolvimento de algumas bactérias no estômago que advém da ingestão de alimentos.

Pessoas que tem queixa de azia, frequentemente fazem uso de antiácidos ou bloqueadores da produção de ácido e com uso prolongado.

Este fato é perigoso porque o bloqueio da produção de acido gástrico leva a proliferação de bactérias como a Helicobacter Pylori e este fato, em indivíduos com predisposição desenvolvem o câncer gástrico.

O Câncer gástrico normalmente é assintomático, porem há alguns sinais de alerta como dores no estômago quando o indivíduo se alimenta.

Dor ao ingerir alimentos é sinal de inflamação gástrica, ao contrario de dores que melhoram com a alimentação, que são mais compatíveis com lesões no intestino(duodeno).

A infecção por parasitas associada ao câncer se dá pela infecção pelo parasita Schistosoma Haematobium que apresenta características epidemiológicas, clínicas e patológicas em pessoas portadoras de neoplasia de bexiga, em áreas endêmicas na África, na cidade de Luanda, em Angola.

O Schistosoma Haematobium contamina água e este parasita faz ciclo passando pelo sistema urinário e invade a parede da bexiga, se instalando neste local e levando ao desenvolvimento de lesão inflamatória que posteriormente transforma-se em câncer.

Os sintomas são a perda de sangue pela urina e dores na região de baixo ventre.

Este parasita não ocorre no Brasil.

Fonte:

-Acta Urológica, 2012 – 1: 15-20.

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