O Câncer ocupacional ou relacionado à atividade de trabalho se dá decorrente da exposição a agentes químicos, físicos ou biológicos no ambiente de trabalho.
O conhecimento de que a atividade laboral estaria possivelmente associada ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer foi descrito pela primeira vez em 1890 por Sir Richard Doll, no Reino Unido. O eminente médico inglês (Sir era titulo dado a nobreza por reconhecimento de benfeitos a população), descreveu a correlação de causa/efeito em trabalhadores na atividade de limpadores de chaminé, que após alguns anos na atividade, desenvolviam câncer no testículo.
A partir deste relato na literatura, foram se descrevendo algumas atividades laborais relacionadas a uma maior incidência de alguns tipos de tumores, sendo o mais estudado o câncer de pulmão.
O câncer ocupacional é considerado uma doença causada pela longa exposição a agentes cancerígenos no ambiente de trabalho.
Este risco pode ser amenizado com o uso de equipamentos de segurança em cada ramo de trabalho, como luvas, máscaras e protetor solar.
Estima-se que a ocorrência de câncer ocupacional varia entre 4 e 40%, o que representa aproximadamente 20.000 pessoas que desenvolvem câncer devido à exposição a agentes presentes no ambiente de trabalho.
No relatório elaborado pelo Inca com as diretrizes para vigilância do câncer relacionado ao trabalho, consta que são causadores de 10,8% dos casos de câncer em homens e 2,2% dos casos em mulheres.
Este relatório também apresenta estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde mais de 440.000 pessoas morrerão no mundo até o ano de 2015 em consequência da exposição a substâncias perigosas. Ocorre em maior frequência em países em desenvolvimento por provável deficiência na vistoria de Segurança do Trabalho.
Na maioria das vezes a exposição isolada a agentes cancerígenos relacionados ao trabalho não leva ao desenvolvimento do câncer.
Outro fator é que a exposição desses agentes é potencializada por outros fatores de risco como poluição, alimentação rica em gorduras, consumo exagerado de álcool e principalmente o tabagismo.
Esses agentes são específicos e denominados de agentes carcinogênicos, pois associados a outros fatores, a exposição a longo prazo, levam ao desenvolvimento do câncer.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (InCa), os trabalhadores que desenvolvem câncer são os que estão expostos de forma direta ou indireta a agentes como:
Agente carcinogênico
Agrotóxicos
- Agricultores
- Trabalhadores de empresas desinsetizadoras
- Trabalhadores do transporte de agrotóxicos
- Trabalhadores da indústria química da formulação de agrotóxicos
Sílica
- Trabalhadores do setor de minérios
- Trabalhadores da indústria de cimento
- Trabalhadores do indústria de cerâmica
- Trabalhadores da construção civil
- Trabalhadores de fundição
Amianto
- Trabalhadores da construção civil
Radiação ionizante
- Trabalhadores do indústria nuclear
- Trabalhadores de hospitais na área de exames de imagem que envolvem a radiação e da radioterapia
Radiação solar
- lavradores
- carteiro
- trabalhadores que se expõem ao sol
Benzeno, xileno e tolueno
- Trabalhadores da indústria química
- Trabalhadores da indústria de combustíveis
- Motoristas de ônibus, taxis e motorista de caminhão
Arsênio, cádmio, mercúrio e níquel
- Trabalhadores do garimpo de ouro
Formaldeído
- Trabalhadores da indústria de produtos de beleza
Berílio
- Trabalhadores da indústria de cerâmica
Dentre os principais tipos de câncer relacionado à exposição ocupacional são os tumores de pulmão, as leucemias e o câncer de pele.
No Brasil a legislação específica do Ministério do Trabalho e Emprego reconhece como agentes cancerígenos apenas cinco substâncias:
- benzeno
- 4-aminodifenil
- benzidina
- beta-naftilamina
- 4-nitrodifenil
Os agentes físicos como a radiação ionizante, agentes químicos como amianto e sílica não estão incluídos na listagem, porém estão entre as exposições toleradas, o que no Brasil é considerado como “níveis máximos tolerados”, para a exposição ocupacional.
Ou seja trabalhadores expostos a esses agentes são teoricamente monitorados pelo medico do trabalho da empresa, para avaliação da exposição com o nível de segurança.
Contudo estudos científicos demonstram que não há limites seguros para a exposição a agentes carcinogênicos.
É importante o entendimento de que o câncer ocupacional é relativamente raro e o desenvolvimento da doença depende de mais de um fator, como da exposição a agentes cancerígenos.
Na realidade o que ocorre é:
Exposição a agentes cancerígenos
Associados: características genéticas de predisposição ao câncer
Outros fatores:
Dose diária absorvida
Tempo de exposição
Idade
Doenças preexistentes
Suscetibilidade individual
Alimentação, estresse, fumo, álcool
Muitos anos para o desenvolvimento do câncer
Associação do agente cancerígeno e o tipo de câncer mais comumente desenvolvido pela exposição ocupacional:
Substâncias, circunstâncias de exposição ou ocupação x Tipo de tumor
Alcatrão, piche, fuligem, xisto e betume - Câncer de pulmão e mesotelioma maligno
Arsênio - Câncer de pulmão e mesotelioma maligno
Asbesto - Câncer de pulmão e mesotelioma maligno
Berílio - Câncer de pulmão e mesotelioma maligno
Cádmio - Enfisema pulmonar
Vapores de ácido sulfúrico - Câncer de pulmão
Fabricação de produtos de calçados - Câncer de laringe
Gás mostarda - Leucemia
Sílica livre - Câncer de pulmão e mesotelioma maligno
Exposição à radiação solar - Câncer de pele
Como o câncer de pulmão é o mais incidente e estudado, há na literatura a relação das principais atividades laborais no Brasil que podem estar associadas ao desenvolvimento do câncer de pulmão ocupacional:
- trabalhadores de solda de aço inoxidável, o qual tem altos teores de níquel
- trabalhadores da fundição de metais
- carvoaria, exposição a fumaça emitida pelos fornos de carvão vegetal que contem hidrocarbonetos aromáticos
- trabalhadores de limpeza de superfície metálicas em metalúrgicas, principalmente os que trabalham nos processos de decapagem.
- trabalhadores da mineração de asbesto e produção de artefato de cimento – amianto
- trabalhadores da construção civil principalmente na atividade de coberturas de caixa d’água de cimento amianto, telhas e demolições em geral
Algumas atitudes podem fazer diferença e podemos adotar postura que possa levar a prevenção de tumores relacionados atividade laboral.
Hábitos que aumentam a prevenção do Câncer ocupacional:
- evitar a exposição prolongada ao sol sem a utilização de filtro solar, fator 30, no mínimo
- utilização de EPI (equipamento de proteção individual)
- ventilação adequada do local de trabalho
- trabalho educativo visando aumentar o conhecimento a respeito dos riscos relacionados ao trabalho
- realização de exames médicos periódicos com adoção de programas de proteção individual adequados a necessidade de cada grupo de risco laboral
- adoção de políticas de prevenção de câncer relacionado ao trabalho, principalmente em países em desenvolvimento, onde a incidência é maior.
Fontes:
www.bvsms.saude.gov.br
Instituto Salus
www.inca.org.br
www.jornaldepneumologia.com.br; 2010- volume 36, numero 6
Câncer de pulmão ocupacional