Artigo escrito pela Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56.925 *
Os tumores da infância e adolescência não apresentam evidências científicas na relação entre fatores ambientais e o desenvolvimento do câncer. Desta forma, não há medidas de prevenção para esses tipos de tumores.O que há e deve ser considerado é a prevenção precoce. Alguns sinais devem ser valorizados.
Crianças que apresentem gânglios aumentados (ínguas) na região do pescoço, axilas e na virilha, dores nos ossos não relacionadas a traumatismo e palidez devem ser levadas para uma avaliação médica. Outras alterações como dores de cabeça, alteração visual e dores de barriga também devem ser consideradas como sinal de alerta.
Alguns tumores sólidos e doenças hematológicas como as leucemias e linfomas levam a sintomas que devem ser observados e levados em consideração, como os que seguem abaixo:
Sangramentos anormais sem causa definitiva:
Pequenos hematomas são frequentemente encontrados em crianças nas regiões das pernas e braços, pois estão associados a áreas o qual as crianças frequentemente sofrem traumas nas brincadeiras do dia a dia.Mas o aparecimento de hematomas fora dessas áreas e não relacionados a traumatismo é preocupante.
Pode ser alerta de plaquetopenia (queda do número das células denominadas plaquetas, que são responsáveis pela coagulação do sangue) e pode estar relacionada a Leucemias.
Dores generalizadas:
A dor em crianças esta associada a aproximadamente 60% dos diagnósticos oncológicos e pode ocorrer por muitos fatores, sendo o mais frequente a infiltração do tumor nos ossos ou as metástases ósseas.
Como algumas crianças são pequenas demais para definir a dor e, desta forma, mensurá-la, o que se deve estar em alerta é o fato da criança estar apresentando diminuição das suas atividades do dia a dia, querer ficar deitada a maior parte do tempo, não querer brincar, se afastar de forma agressiva de qualquer tipo de contato físico, estar irritada e chorosa, apresentar dificuldade para dormir e não querer se alimentar.
10 a 50% das leucemias em crianças apresentam esses sinais.
Ínguas (adenomegalias):
Em crianças as ínguas que correspondem a linfonodos são frequentemente palpados em fase de crescimento, devido a processos reativos de doenças benignas. O que se deve observar é que essas ínguas podem apresentar alteração da consistência, ficando mais endurecidos e persistentes, pois nas doenças infecciosas esses linfonodos regridem.
Outro fator é o numero de linfonodos envolvidos, no câncer há um numero maior de envolvimento linfonodal.De forma geral, linfonodos envolvidos com mais de 3 centímetros devem ser preocupantes.
Ínguas (adenomegalias) localizadas
- pescoço
- região axilar
- região inguinal – virilha
Principais Neoplasias da Infância e Adolescência:
Leucemias Agudas
As leucemias agudas são as principais neoplasias em crianças e adolescentes. Seus sintomas surgem em pouco tempo, as vezes dias e no máximo em semanas.
Sinais de alerta mais comuns são:
- palidez
- fadiga
- irritabilidade
- sangramento anormal sem causa aparente
- febre sem sinais de infecção
- dores nos ossos e articulações
- ínguas generalizadas na região do pescoço, axilar e virilhas
Estes sinais devem ser considerados e a criança, levada para uma avaliação médica do pediatra.
O diagnostico é feito através de um exame de sangue denominado de Hemograma, que vai acusar o aumentos dos Leucocitos (células brancas).
Após este exame será necessário uma série de outros exames como o mielograma que vai determinar qual tipo de Leucemia.
Linfomas
Os Linfomas estão entre os três tipos de Neoplasias mais frequentes na infância e adolescência. Há dois tipos de Linfomas: Linfoma de Hodgkin e o Linfoma não Hodgkin.
O sinal de alerta é o aumento de gânglios localizados ou generalizados, que ao ser evidenciado deverá ser um sinal de alerta para uma consulta com o pediatra. Geralmente essas ínguas são indolores e de crescimento rápido.
Tumores sólidos:
Os tumores sólidos na infância estão geralmente relacionados com massas abdominais que são palpadas pela mãe ou o cuidador da criança durante o banho, por exemplo. São eles:
- neuroblastomas – tumores localizados no retroperitoneo, dentro da cavidade abdominal
- nefroblastomas – Tumores de Wilms – tumores renais
- Linfomas não Hodgkin
- hepatoblastoma – tumores no fígado
- tumores de células germinativas – tumores no testículo em meninos e no ovário em meninas
Estas neoplasias são mais comuns em crianças de 1 a 5 anos e, como elas são muito pequenas para a definição de dores, é necessário observar a persistência dos sintomas.
Sintomas de alerta:
- dor abdominal crônica
- “massa” abdominal palpada por um cuidador
- palidez, dores generalizadas, perda de peso
- sangramento na urina – é um alerta de tumores renais como o Tumor de Wilms
- pressão alta
- obesidade infantil, acne e fraqueza
- aumento do volume do testículo em meninos
Tumores cerebrais:
São considerados os tumores mais frequentes nas crianças. O sintoma varia conforme a localização do tumor podendo dar os seguintes sinais de alerta:
- dores de cabeça frequentes e progressiva
- náuseas e vômitos matinais, ou a criança que acorda vomitando
- alteração para andar e coordenação motora
- convulsões
- estrabismo
- lentificação dos movimentos
- movimentos oculares anormais
- paralisia de um lado do corpo ou no rosto
- alteração visual
- alteração da consciência
- perda de peso
- sonolência
Tumores Oculares - Retinoblastoma:
Esses tumores são relativamente raros, mas ocorrem somente na infância e 80% deles é diagnosticado entre 3 e 4 anos.
O sinal de alerta mais comum é o “reflexo de olho de gato” que é um reflexo branco amarelado no olho por alteração da refração da luz na retina.Foto da internet ilustrativa de tumor ocular – com sinal de alerta para Retinoblastoma.
Sinais de alerta:
- olho de gato
- estrabismo
- irritação ocular
- alteração visual
-dores de cabeça e vômitos
- dores ósseas
Um fator muito importante é que crianças tem um histórico familiar de algum parente que já desenvolveu a doença devem ser avaliadas por um oftalmologista com frequência.
Tumores ósseos:
Esses tumores são mais frequentes nos adolescentes. Os principais tumores ósseos são o Osteossarcoma e os Sarcomas de Ewing. A diferença é que os Osteossarcomas acometem mais ossos longos e os Sarcomas de Ewing são tumores basicamente da bacia e a parede do tórax.
Sinais de alerta:
- febre, que pode ocorrer em ate 30% dos portadores de Sarcoma de Ewing
- dores ósseas Foto ilustrativa da internet de osteosarcoma em fêmur esquerdo.
Observar o aumento do volume do membro.
Tumores de Partes Moles:
Esses tumores são representados pelos Sarcomas de partes moles e deve-se suspeitar deles quando se tiver uma “massa” ou nódulo de surgimento inexplicável em qualquer localização e que esteja aderido aos planos profundos.
- geralmente não apresentam dor
- apresentam aumento progressivo do tamanho em curto espaço de tempo
Como podem ocorrer em qualquer local, há o risco de atingirem as cavidades:
- cavidade nasal – obstrução nasal com eliminação de sangue
- conduto auditivo – eliminação sanguinolenta pelo conduto auditivo
- retenção urinária – quando na bexiga
- sangramento urinário
- secreção vaginal com sangramento na criança pequena.
Crianças de risco:
Algumas Síndromes Genéticas são de maior risco para o desenvolvimento de neoplasias na infância e adolescência:
Síndromes genéticas relacionadas ao câncer infantil:
Síndrome de Down - Leucemia
Síndrome de Ataxia telangiectasica - Linfoma
Leucemia - Tumores de mama na adolescência
Síndrome de Beckwith-Wiedmann - Tumor de Wilms
Hepatoblastoma/Neuroblastoma - Carcinoma de adrenal
Síndrome de Bloom - Leucemia
Linfoma - Hepatocarcinoma
Sarcoma - Tumores no cérebro
Síndrome de Denys-Drash - Tumor de Wilms
Estas síndromes são raras e diagnosticadas por geneticista geralmente quando as crianças apresentam alguma alteração e o pediatra pesquisa a alteração genética.
As informações foram retiradas das fontes:
- Programa de Diagnostico Precoce do Câncer Infantil do Ministério da Saúde
- www2.inca.gov.br – câncer infantil
- National Instituto for Health and clinical excellence, 2005
* A Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56925, é Medica Oncologista Clinica, com título de especialista em Cancerologia (1992). Residência Médica: Hospital do Câncer A. C. Camargo. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho – IAVC, São Paulo.