Artigo 55 - Câncer de orofaringe e laringe; conheça novo remédio - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 25/04/2024
 
12/05/2015 - 09h25m

Artigo 55 - Câncer de orofaringe e laringe; conheça novo remédio

Agência Hoje/Dra. Silvia Regina Graziani* 
  • Esquematização da membrana celular e os receptores EGFR

São Paulo - O câncer de orofaringe e laringe são tumores muito ocorrentes e tem uma frequência ainda maior em pessoas que fazem uso de bebida alcoólica com frequência e principalmente quando associados ao fumo.

Esta doença com 650 mil novos casos anualmente no mundo é responsável por mais de 350 mil mortes. Mais comum em pessoas acima de 40 anos, esse tipo de câncer atinge três vezes mais os homens do que as mulheres.

Estudos recentes indicam que 14 a 25% das amostras analisadas de tumores da orofaringe e laringe do tipo histológico (Carcinoma Epidermoide) estão relacionados a infecção de um vírus bem conhecido por causar tumores no colo do útero e pênis - O vírus é o Papiloma Vírus Humano – HPV. A prática do sexo oral aumenta muito a incidência de infecção oral pelo HPV.

Como todos os outros tipos de tumor, quanto mais precoce o diagnóstico, maiores as chances de “cura”, ou seja, de controle da doença.

Outros fatores são conhecidos como fatores predisponentes no desenvolvimento do câncer de boca, e os mais conhecidos associados a este tumor são:

Fumo: o hábito de fumar aumenta a incidência deste câncer de forma muito significativa e quanto maior o tempo de exposição ao fumo, maiores as chances de desenvolver câncer.

Pessoas que usam cachimbo ou fumo de corda também têm aumento de chances de desenvolver câncer na boca.

Álcool: o consumo de álcool associado ao fumo é a principal causa de câncer de boca (parte interna da boca).

Uso de próteses traumáticas: o uso de dentaduras que causam lesão de irritação crônica por anos no mesmo local, pode levar ao desenvolvimento do câncer.

Exposição ao sol: principalmente em câncer de lábio inferior.

Exposição profissional: mais frequente em trabalhadores de indústria de metais, fibra têxtil, couro, níquel, álcool isopropilico e ácido sulfúrico. Este risco reduz nesses trabalhadores se esses usarem equipamento de proteção.

Hábitos alimentares: como a deficiência de nutrientes do tipo ferro e vitamina A levam a uma lesão na parte interna da boca e aumentam o risco de câncer na boca, faringe e no esôfago.

O consumo de frutas e verduras leva a um efeito protetor, principalmente as frutas cítricas como laranja, limão e cenoura.

Como a boca é uma área à qual o acesso é fácil para o exame do médico ou do dentista, a procura de lesões precursoras por esses profissionais pode ter um impacto muito positivo na evolução da doença.

Um hábito importante é a realização do autoexame da boca, que pode muito contribuir para a detecção dessas lesões em fase inicial.

As lesões que podem ser detectadas pelo autoexame mais comuns são:

Ulcerações traumáticas: geralmente em áreas sujeitas a traumas contínuos como na gengiva, causadas pela dentadura

Leucoplasia: lesões esbranquiçadas que podem ocorrer em qualquer local da boca.

Irritações crônicas: que não melhoram após quatro semanas do aparecimento.

O tipo de tumor mais comum na boca é o carcinoma espinocelular, que ocorre na pele e nas mucosas, sendo a incidência de 90 a 95% dos casos. Os outros 10% são os tumores menos frequentes como adenocarcinoma, sarcoma e melanoma, que são tumores mais raros.

O risco de desenvolvimento de câncer em orofaringe está diretamente relacionado ao tempo do uso de cigarros, sendo:

Risco baixo de desenvolvimento de câncer

Uso de cigarros por menos de 10 anos

Uso de cigarros por mais de 10 anos, porém tenha parado há dois anos

Risco alto de desenvolvimento de câncer

Uso de cigarro mais por mais de 10 anos ininterruptos

Os sarcomas referidos na boca são os Sarcomas de Kaposi, relacionado a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – AIDS, onde no início da epidemia desta virose a incidência de Sarcomas de Kaposi era muito alta (por volta de 50% dos pacientes infectados, apresentavam essas lesões).

A prevenção é o método mais simples e eficaz e deve ser incentivada em pessoas que têm hábito de fumar e beber álcool.

O tratamento do câncer de orofaringe e laringe em fases iniciais é sempre a cirurgia para remoção do tumor.

Alguns casos têm indicação de complementação do tratamento cirúrgico com radioterapia, principalmente quando tem acometimento de linfonodos(gânglios), que será orientado pelo médico cirurgião.

A novidade é uma nova medicação que tem sido estudada para o tratamento deste tipo de câncer.

O medicamento é o Cetuximabe, que está sendo usado em conjunto com o tratamento da Radioterapia e Quimioterapia.

O medicamento - Cetuximabe é um anticorpo monoclonal, que tem como alvo o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR).

O receptor do EGFR é  uma estrutura presente na membrana das células tumorais e a união do Cetuximabe a este receptor levará a redução das chances de invasão da célula tumoral nos tecidos normais e reduz também as chances de disseminação da doença (metastases).

Outra ação deste medicamento é a inibição da formação de novos vasos sanguíneos que nutrem os tumores, favorecendo seu crescimento.

O Cetuximabe tem efeitos colaterais bem menos intensos o do que os quimioterapicos, sendo o mais frequente a irritação da pele, com uma erupção do tipo acne (espinhas).

O medicamento, tem o nome comercial de Erbitux®, e é comercializado pela Merck que é a  mais antiga indústria farmacêutica e química do mundo. Foi fundada na Alemanha há mais de 340 anos, e atua no Brasil desde 1923.

Este medicamento ainda não é disponivel para o tratamento de pacientes do Sistema Unico de Saúde (SUS), sendo disponível apenas para pacientes da rede complementar e tem indicação em tumores localmente avançados de cabeça e pescoço, do tipo Carcinoma Epidermoide associado a Radioterapia e na doença avançada ou metastatica, associado a quimioterapia.

Fontes:

www.saude.gov.br/sctie

www.merck.com.br

www.inca.org.br 

www.fundonc.org.br

Manual de Orientação do controle do Câncer de Boca do Estado de São Paulo, da Fundação Oncocentro de São Paulo – Secretaria de Estado da Saúde.

* A Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56925, é Medica Oncologista Clinica, com título de especialista em Cancerologia (1992). Residência Médica: Hospital do Câncer A. C. Camargo. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho – IAVC, São Paulo.

 

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