Artigo 76 - Fertilidade após o tratamento do câncer de mama - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 26/04/2024
 
13/04/2016 - 10h56m

Artigo 76 - Fertilidade após o tratamento do câncer de mama

Agência Hoje/Dra. Silvia Regina Graziani* 

São Paulo - O câncer de mama é muito frequente entre as mulheres e cada vez mais temos visto pacientes jovens acometidas por neoplasias de mama.

Como a maior parte das mulheres jovens, existe o sonho de tornarem se mãe e com o recurso de tratamento que temos disponíveis hoje em dia, este sonho tornar-se possível, mesmo após o tratamento do câncer de mama.

Relatórios a respeito de gravidez após tratamento de câncer são muito limitados e mesmo porque a maior parte das mulheres jovens acometidas por câncer de mama não tentam a gravidez por medo de recorrência da doença.

Há pelo menos três aspectos fundamentais para discussão deste fato:

Do ponto de vista médico

Vamos considerar alguns fatores fundamentais, que é a preservação da vida da mãe. A gravidez leva a alterações endocrinológicas que afetam os níveis de hormôniosfeminino como o estrógeno e a progesterona, hormônio do crescimento e fatores imunológicos.

Hoje temos uma chance grande de mulheres acometidas por câncer viverem por muitos anos e quando a paciente é jovem, é justo pensar em união e formação de uma família.

Porém, muitas vezes ocorrem problemas com a fertilidade, pois este fator está relacionado com o tipo de medicamento que a paciente recebeu durante a quimioterapia.

As mulheres que receberam quimioterapia na infância e principalmente radioterapia na região pélvica têm tendência a ter partos prematuros e baixo peso pra a idade gestacional.

Como os tumores mais frequentes na infância são as Leucemias, os esquemas de quimioterapia incluem Daunorrubicina e Doxorrubicina, o que também leva a maior frequência de nascimento com crianças com peso abaixo da idade gestacional.

Não foi observado diferença relacionadas a anomalias congênitas entre as mulheres tratadas com quimioterapia e as mulheres normais, da mesma faixa etária.

Fato interessante foi a análise de 14 estudos que analisaram o tempo de sobrevida de mulheres que engravidaram após o tratamento do câncer de mama e foi demonstrado que mulheres que engravidaram após o tratamento do câncer de mama viveram muito mais do que as que nunca engravidaram.

O que não está muito bem esclarecido é o tempo que a mulher deve aguardar para engravidar após o tratamento do câncer de mama:

A recomendação da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia é:

2 anos para mulheres que não tem acometimento de gânglios na região axilar no diagnostico

3 a 5 anos para mulheres que tem acometimento de gânglios na região axilar no diagnostico

Porém as mulheres que fazem uso de Tamoxifeno para o tratamento do câncer de mama também devem guardar para engravidar pelo menos cinco anos, podendo se estender a 10 anos dependendo da conduta do médico.

Do ponto de vista sociocultural

O câncer de mama tem uma representação cultural muito intensa, mesmo porque a mama é um órgão sexual relacionado a feminilidade.

Estudo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia 2005; 51(2): 101-110 onde foi analisado a lógica de mulheres que não seguiram a orientação médica de aguardar uma fase segura para conceber um filho, privilegiando o desejo de ser mãe, acima dos riscos de que a doença possa recidivar.

A mama e a gravidez parecem que representam o papel fundamental na identidade feminina.

Uma mulher infértil na sociedade representa uma mulher frustrada e incompleta.

Também há o simbólico dentro do imaginário de que câncer significa morte e a gravidez a vida e que “Deus” lhe dá a chance de superar a fase de tratamento e a gravidez lhe dá a chance de prosseguir a vida na figura de seus filhos.

Do ponto de vista biológico

Estudos de células da mama confirmaram que o amadurecimento das células da mama só ocorre completamente durante a gravidez.

Na gestação a mama é preparada para a amamentação e quanto mais cedo esse desenvolvimento ocorre, menor as chances das células da mama de sofrer alguma mutação e transformação em células malignas.

Estudos de estatística de incidência de câncer nas diferentes regiões do brasil demonstram que essa afirmação parece ter fundamento.

Mulheres das regiões norte e nordeste do Brasil tem uma incidência de câncer de mama muito menor em relação a mulheres das regiões sul e sudeste e um dos fatores mais marcantes é que mulheres da região norte e nordeste engravidam muito mais cedo em relação as mulheres do sul.

Dos fatos concretos até hoje:

- A gravidez após o tratamento do câncer de mama não aumenta as chances de recidiva da doença ou do aparecimento de outros tipos de tumor.

- Pode ocorrer desenvolvimento do câncer de mama durante a gravidez e este fato atrapalha muito o diagnóstico precoce por causa das alterações que ocorrem na mama gravídica.

Fonte: Sociedade Brasileira de Mastologia

Fontes pesquisadas

www.batalhadoras.org.br

www.oncofertilly.northwestern.edu

www.inca.gov.br

www.accamargo.org.br

* A Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56925, é Medica Oncologista Clinica, com título de especialista em Cancerologia (1992). Residência Médica: Hospital do Câncer A. C. Camargo. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho – IAVC, São Paulo.

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