Artigo 98 - Influência do meio ambiente e da genética no câncer - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 20/04/2024
 
20/05/2017 - 19h03m

Artigo 98 - Influência do meio ambiente e da genética no câncer

Agência Hoje/Dra. Silvia Regina Graziani* 

Influência do meio ambiente, da genética individual e de mutações ao acaso no desenvolvimento do câncer

São Paulo - Os tumores malignos são muito frequentes e com o passar do tempo, observamos uma frequência cada vez maior de incidência dessa doença.

Evidências atribuem esse aumento de incidência a práticas de maior efetividade no diagnóstico precoce dessa patologia, mas além desse fator, temos que considerar que a incidência se deve a dois fatos como a influência do meio ambiente no desenvolvimento de alguns tipos de tumores e de fatores genéticos individuais de predisposição ao desenvolvimento de tumores.

Os fatores ambientais são bem conhecidos e os primeiros a ser descritos na literatura médica mundial, já nos anos de 1890, quando médicos ingleses descrevem a incidência aumentada de tumores de testículos em limpadores de chaminé, tornando esse tipo de neoplasia doença relacionada a atividade laboral.

Outro fato muito conhecido e estudado em todo mundo é o aumento da incidência em pessoas que usam o tabaco. O fumo está diretamente relacionado com o desenvolvimento de tumores de pulmão, bexiga, colo de útero como fator de risco de aumento de incidência e especialmente em tumores Epidermoide de pulmão, onde se associa o desenvolvimento do câncer com o habito de fumar.

Contudo, em março de 2017, foi publicado na renomada revista Science uma pesquisa a qual revela que 66% dos defeitos genéticos que desencadeiam tumores podem ser atribuídos a problemas corriqueiros no processo natural de duplicação do DNA; fatores ambientais e hereditários são responsáveis por 29% e 5%, respectivamente.

Essa informação é revolucionaria, pois, os médicos sempre acreditaram que 80% do desenvolvimento dos tumores fossem relacionados a fatores do meio ambiente. O estudo foi baseado na análise de um modelo matemático para análise de sequência de DNA de células tumorais de 32 tipos de tumores, em 69 países do mundo. A conclusão do estudo foi que na média 66% das mutações encontradas nos tumores avaliados eram aleatórias e ocorreram durante a divisão celular sem estar associada a qualquer causa aparente.

As células se dividem normalmente e durante esta divisão celular ocorre muitos erros levando a mutações. Na maioria das vezes nada ocorre, mas alguns erros podem alterar o DNA em um local que esteja relacionado ao câncer e levar a divisão celular desordenada, levando ao desenvolvimento do câncer.

Uma das conclusões é que na média de todos os tipos de tumores - independentemente das diferentes condições ambientais dos países e da genética de suas populações - cerca de 29% das mutações podem ser atribuídas a fatores ambientais, 5% a fatores hereditários e 66% a erros aleatórios nas cópias do DNA.

Resultados interessantes deste estudo inicial são em tumores de pâncreas onde os autores encontraram em seu modelo matemático que 77% dos erros no DNA são aleatórios, 18% relacionado a fatores do ambiente como o fumo e 5% dessas mutações seriam hereditárias.

Tumores de próstata, cérebro e ossos mais de 95% das mutações encontradas correspondiam a erros aleatórios.

Mas temos que considerar uma ressalva neste resultado, porque tumores de próstata são muito frequentes em homens a partir de 50 anos, sendo a frequência em homens com 80 anos de 80%, então se está baseado em mutações aleatórias deve estar necessariamente relacionado a algum fator em comum aos homens com o processo de senescência.

Nos tumores de pulmão, o estudo mostrou que 65% das mutações estão relacionadas com o meio ambiente, em especial com o fumo e 35% com erros aleatórios. Neste estudo não foi detectado mutação hereditária no desenvolvimento dos tumores de pulmão.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, estudaram e descreveram as alterações genéticas de um dos tumores mais temidos e de pior prognóstico nos seres humanos, que são os tumores cerebrais, também conhecidos como Gliomas.

Os gliomas representam 42% dos tumores cerebrais e podem ser malignos ou benignos. Esses tumores se iniciam nas células gliais que são células responsáveis pela proteção, nutrição e manutenção dos neurônios. Os Gliomas de alto grau têm uma sobrevida mediana de 15 meses e os Gliomas de baixo grau, a sobrevida mediana é de 2 a 5 anos com altas taxas de recidiva e poucas opções de tratamento.

Os pesquisadores da Universidade de Ribeirão Preto realizaram a analise genômica desses tumores e definiram 3 subtipos desses tumores associados as chances de responder ao tratamento e maior sobrevida.

O mais agressivo chamado de Glioblastoma, os pacientes vivem por volta de 1 ano. Os outros dois subtipos a sobrevida variam de 6 a mais de 8 anos, baseados nos diagnóstico molecular desses tumores.

O objetivo dos pesquisadores foi de auxiliar os médicos a direcionarem tratamentos mais eficazes a este tipo de tumor e a evitar tratamentos desnecessários que podem aumentar o sofrimento dos pacientes e familiares.

Porém, até o momento essa técnica está na área de pesquisa e o diagnóstico ainda é feito pelo patologista que analisa a aparência do tumor para dar o diagnóstico.

Mais estudos estão sendo publicados e abrindo novas perspectivas para o entendimento dessa doença e desta forma direciona melhor o tratamento específico de cada tipo de alteração que levou a mutação e ao desenvolvimento do câncer.

Referências pesquisadas:

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,erros-aleatorios-

www.scielo.br/scielo

www5.usp.br

acervodigital.ufpr.br

unicamp.sibi.usp.br

* A Dra. Silvia Regina Graziani, CRM 56925, é Medica Oncologista Clinica, com título de especialista em Cancerologia (1992). Residência Médica: Hospital do Câncer A. C. Camargo. Mestrado e Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médica do Instituto do Câncer Arnaldo Vieira de Carvalho – IAVC, São Paulo.

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