Boa Vista, Lavapés, Liberdade. As curiosas histórias das ruas famosas - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 24/04/2024
 
01/08/2014 - 11h22m

Boa Vista, Lavapés, Liberdade. As curiosas histórias das ruas famosas

Agência Hoje/Gabriel Grunewald 
Agência Hoje/Fernanda São José
Viaduto Santa Efigênia
Viaduto Santa Efigênia
  • Rua Bela Cintra, Consolação em 1923
  • Rua Boa Vista, Sé em 1920
  • Ladeira Porto Geral
  • Rua dos Lavapés, Cambuci
  • Liberdade em 1930
  • Ponte da Casa Verde em 1935
  • Rua Teodoro Sampaio em obras de pavimentação em 1921
  • Viaduto Santa Efigênia

São Paulo (Agência Hoje/Gabriel Grunewald) - Construída ao redor de uma capela erigida pelos padres Jesuítas a cidade de São Paulo se fez surgir em frente da singela construção em um pequeno largo. Foi este o primeiro logradouro público da cidade, que recebeu o nome de Pátio do Colégio e que com o passar do tempo o que era um pequeno largo se tornou uma cidade com milhões de pessoas, milhares de ruas, muitas avenidas e muitos outros tantos largos.

No início de sua existência, os logradouros da cidade recebiam nomes atribuídos pelo próprio povo. Tendo como inspiração o santo padroeiro de uma igreja, um aspecto da geografia local ou nomes de moradores muito importantes. E assim foi por quase 250 anos onde quem dava nomes às ruas eram os moradores, sem qualquer interferência da Câmara Municipal.

Naquela época não havia placas e numeração e as pessoas escreviam seu endereço utilizando o ponto de referência mais notório da região, tendo endereços popularmente conhecidos como " pegado com Pedro Taques" " junto à casa da Fundição", " junto aos muros dos frades de São Francisco". Pela cidade ainda ser pequena esses nomes bastavam, pois todos se conheciam e moravam próximos.

Caminhos que eram abertos com o desenvolvimento da cidade também tinham denominações também muito simplistas e auto sugestivas, tais quais: "Caminho de São Vicente", "Caminho do Conselho para Virapoeira" (Virapoeira era o antigo nome do bairro do Ibirapuera), "Caminho de Pinheiros" entre outros.

Já no século XVIII, muitas ruas já estavam abertas e denominadas no atual centro histórico de São Paulo, a Rua Boa Vista e a Ladeira Porto Geral, são nomes antiquíssimos que permanecem até hoje.

Entretanto foram poucas que sobreviveram até a atualidade, muitas delas, acabaram mudando seu nome pela intervenção governamental. Fato que ocorreu com os centenários e pitorescos pontos como o Beco da Cachaça (trecho incorporado à Rua da Quitanda), Beco do Inferno (atual Rua do Comércio) e Beco dos Cornos (atual Rua da Assembléia).

A intervenção do governo na toponímia da cidade como política pública pode ter sua data inaugural como 09 de setembro de 1809, momento em que os vereadores paulistanos receberam um ofício do Ouvidor da Comarca, Miguel Antonio de Azevedo Veiga, determinando que os vereadores registrassem os nomes em placas e numerassem as casas.

A escolha dessa data para instituir as mudanças tem uma importante causa: A chegada da família real no Brasil em 1808. Pois, com a vinda da realeza, os servidores perceberam que seria necessário aumentar o controle estatal sob a vida da população para garantir um maior recolhimento de impostos, já que agora o rei fazia vistas grossas e próximas.

A partir de 1809 São Paulo foi ficando mais parecida com a cara que tem hoje, mudando nomes que eram controversos, tal qual o "Largo do Pelourinho" para "Largo 7 de Setembro" organizando e homogeneizando a toponímia paulistana.

De lá pra cá muitas ruas mudaram seus nomes, contudo grande parte do passado da cidade está escrito nas placas, que diversas vezes não vemos pela correria rotineira ou mera desatenção.

Parar e se atentar aos nomes de algumas ruas pode ser muito interessante, e nos mostra pessoas e fatos que jamais imaginaríamos que ocorreram nos ricos 459 anos desta cidade. Que seguiu seu caminho através dos séculos, inicialmente como um pequeno largo até se tornar a metrópole que é hoje. Com as ruas e caminhos sendo testemunhas de suas mudanças, desenvolvimento e memória.

Selecionamos sete importantes ruas do centro histórico, revelando sua história e importância na construção da cidade de São Paulo e de sua população.

Rua do Lavapés – Cambuci

Uma das poucas denominações populares que perduram até os dias de hoje. A Rua do Lavapés lembra o antigo hábito dos viajantes e moradores que entravam na cidade pela baixada da Glória lavarem os pés no córrego lá existente.

Esse córrego era quase que uma divisa natural entre cidade e a sua zona rural. Suas águas se espraiavam pelas várzeas do Taponhoin que nas épocas de cheia fazia com que o córrego invadisse as casas dos moradores que se situavam às suas margens

Avenida e Largo da Liberdade – Liberdade

Ao longo do tempo esta avenida teve diversos nomes. O primeiro deles foi o de Rua da Pólvora, já que através dela que se chegava à Casa da Pólvora, construída em 1754, e que se localizava, no até hoje com a mesma denominação, Largo da Pólvora.

Em 1775, com a construção de Forcas para o cumprimento das penas de morte naquela área, o logradouro foi renomeado como Rua da Forca. Muitos historiadores entram em contradição para precisar o que causou o futuro nome, mas é quase certo que a Avenida e o Largo tiveram esse nome pela abolição da escravidão assinada em 1888 e o fim da pena de morte no Brasil por crimes comuns oficializado em 1889.

Rua Bela Cintra – Consolação

Bela Cintra era o nome de uma antiga chácara onde atualmente esta situada esta rua. A localidade foi comprada em 1880 por Mariano Antonia Viera e nessas terras foram abrigados uma comunidade de portugueses açorianos, na qual ele fazia parte. Seu Sogro, José Paim Pamplona, também foi uma importante personalidade da região tendo diversos endereços em sua homenagem.

A rua ganhou esse nome pela capela em louvor ao “Divino Espírito Santo da Bela Cintra”, pois a família achava que a região era muito parecida com Cintra, cidade próxima de Lisboa.

Rua Boa Vista – Sé

O nome boa vista aparece em documentos já em 1711. O nome popular foi dado pelo seu trajeto que contornava a parte alta de um morro. Fazendo que a partir daquela rua a população pudesse observar uma bonita paisagem.

A vista cobria a Várzea do Carmo (hoje Parque. D. Pedro II), os bairros do Brás e Pari, bem como um horizonte que chegava às encostas da Serra da Cantareira garantindo a todos os visitantes do morro uma boa vista das zonas Leste e Norte.

Ladeira Porto Geral – Sé

A ladeira Porto Geral fincada na colina histórica de São Paulo era o principal caminho para o antigamente importante Rio Tamanduateí, no tempo que este corria ao lado da rua 25 de março e por isso ela era chamada de “caminho que vai para o Tamanduateí”. Só depois que a ladeira teve o nome mudado para “Porto Geral de São Bento”

Os nomes vêem da proximidade com o mosteiro de São Bento e por ele não ser o único porto do rio Tamanduateí que a época contava com três outros portos. Com o passar dos anos esse se tornou o Porto mais importante da cidade, o porto geral. Suas atividades e importância diminuíram a partir de 1848 pelo início das obras de retificação do Rio sendo completamente paralisadas em 1896.

Casa Verde – Casa Verde

A denominação casa verde lembra o antigo sítio do século XIX que pertencia ao Tenente José Arouche de Toledo Rendon, no entanto o nome da região não era devido a sua influência no exército brasileiro, mas sim pelas suas oito filhas.

Caetana, Gertrudes, Joaquina, Pulquéria, Leocádia, Ana Teresa, Maria Rosa e Reduzinda ficaram conhecidas como as meninas da Casa Verde porque moravam numa verde na atual Rua Anchiente, no centro da cidade. Com a morte do pai, o sítio foi herdado pelas filhas e ficou conhecido como Sítio das meninas Casa Verde.

Rua Teodoro Sampaio – Butantã

A rua que nos dias de hoje é um dos logradouros com a menor velocidade média de toda São Paulo no século XIX, era apenas um loteamento denominado “Villa Cerqueira César”. Neste grande loteamento a “Rua Teodoro Sampaio” era menor e nem havia ligação com a Avenida Doutor Arnaldo.

Seu nome é uma homenagem ao engenheiro, geógrafo e historiador Teodoro Fernandes Sampaio. Nascido na Bahia em 1855 e formado em engenheira ele veio para São Paulo a convite do Governo do Estado sendo chefe da Repartição de Águas e Esgotos da cidade e pioneiro no mapeamento e saneamento sistemático do Brasil.

Hoje São Paulo

© 2024 - Hoje São Paulo - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por ConsulteWare e Rogério Carneiro