Capela de São Miguel, uma jóia que ajuda a contar a história da cidade - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 26/04/2024
 
29/08/2014 - 13h04m

Capela de São Miguel, uma jóia que ajuda a contar a história da cidade

Agência Hoje/Gabriel Grunewald 
Reprodução
� o templo mais antigo de São Paulo, estando lá desde quando a cidade tinha o nome de Vila de São Paulo do Piratininga.
� o templo mais antigo de São Paulo, estando lá desde quando a cidade tinha o nome de Vila de São Paulo do Piratininga.

São Paulo (Agência Hoje) – As milhares de pessoas que transitam diariamente pela estação de trem de São Miguel, encontram logo à frente a singela capela erguida no coração do bairro.

Para os que moram em outras regiões de São Paulo, quando o templo aparenta ser longe demais para conhecer. Um grande erro, já que do centro da cidade não é mais de 40 minutos até a Capela de São Miguel, e o passeio vale cada minuto.

A igreja é a testemunha viva de quatro séculos e meio de transformações e é o templo mais antigo de São Paulo, estando lá desde quando a cidade tinha o nome de Vila de São Paulo do Piratininga.

Sua história começou quando os jesuítas chegaram para colonizar as populações indígenas, tornando possível o convívio com os europeus e, ajudando a organizar e proteger a nova terra descoberta pela coroa.

O local do aldeamento fundado pelo Padre José de Anchieta, a mando de Manoel da Nóbrega, foi escolhido por estar no topo de um morro e ter uma visão privilegiada, além de garantir a segurança e o monitoramento desta importante rota, que sofria ataques constantes dos Índios Tamoios – vindos do litoral norte e com o intuito de atacar São Paulo em aliança com os franceses.

A capela destinada à catequização dos índios foi erguida pela primeira vez em 1560. Entretanto, pela crescente importância da região de São Miguel (nomeada com o nome do santo devoto do Padre Anchieta) e o crescimento do aldeamento, ela foi demolida e ampliada em 18 de julho de 1622, tal como demonstra um documento exposto em sua portada até hoje.

Além de sua idade, aspecto que torna a capela ainda mais singular; os elementos artísticos presentes em seu interior são o quê demonstram o grau de assimilação da cultura indígena pelos jesuítas.

Em sua nave principal há totens entalhados em algumas portas e janelas que evidenciam características de povos andinos, provando que aquelas obras não foram produzidas por nativos e sim por povos da América espanhola.

As pinturas murais do século XVII feitas pelos índios no período jesuítico são as únicas no Brasil que estão preservadas até os dias atuais. Tais obras ainda perduram, pois foram escondidas por séculos atrás dos altares laterais, expostos depois da expulsão dos jesuítas.

A companhia jesuítica foi expulsa por volta de 1759 em uma tentativa de Portugal de reafirmar seu poder e modernizar os processos colonizatórios. A capela nesse momento passou para as mãos dos padres franciscanos que mantiveram as características do templo, porém a transformaram em uma hospedagem para idosos.

Até o século XX a capela passou por um longo hiato de abandono. Como nos explicou Alexandre Galvão, gestor da capela São Miguel Arcanjo, a igreja teve a merecida sorte de ter duas bem fundamentadas restaurações, tendo a primeira delas ocorrido entre 1939 e 1941, quando foi capitaneada pelo escritor Mário de Andrade e o futuro arquiteto de Brasília, Lúcio Costa.

O processo de restauro começou quando, em uma das andanças do literato por São Paulo, Mário de Andrade, representando o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), teve a certeza de que aquele era um patrimônio importantíssimo e solicitou que a Igreja fosse o primeiro edifício que fosse tombado. Valorizando sua história e suas particularidades, o trabalho se norteou em manter a originalidade da Igreja, ao invés de iniciar obras infundadas na reforma do espaço.

O segundo projeto começou em 2006, através da vontade do Padre Geraldo, que está na Paróquia até hoje. Como nos contou César Barbosa, guia cultural da capela, o Padre Geraldo ao ver a reforma que estava sendo feita na Igreja da Sé, anotou todos os telefones das construtoras e ligou para conversar sobre a possibilidade de fazer reformas estruturais na, muitas vezes esquecida e pequenina, igreja de São Miguel.

Logo em sua primeira ligação o Padre Geraldo teve uma agradável surpresa: reformar a pequena igreja era o maior sonho de alguns arquitetos, e eles almejavam há muito tempo poder fazer reparos e levantamentos históricos naquele edifício.

E assim foram 5 anos de reformas que pautaram um amplo trabalho arqueológico, iconográfico e histórico. Foi um processo longo e difícil, principalmente na recuperação das pinturas dos altares, nichos e santos. Mas graças ao esforço do Padre, dos arquitetos e da comunidade, essa jóia ressurge através de uma delicada lapidação, sendo, portanto, devolvida à sociedade e sobressaindo-se ao longo período em que foi negligenciada.

Toda essa importante reforma resultou em uma coesa preservação do monumento, e, sobretudo, uma qualificação e estruturação do seu uso. A igreja, que desde o início se notabilizou pela incorporação das comunidades locais; quatro séculos depois continua mantendo de pé suas aspirações iniciais.

Semanalmente as escolas da região visitam a igreja para conhecer um pouco da sua e história e também perceberem a riqueza do lugar onde vivem. Essas visitas guiadas levantam a estima dos alunos, pois os faz perceber a importância daquela região para a cidade de São Paulo

Todos os sábados ocorrem disputados casamentos. As missas chegam a atrair milhares de pessoas. A Igreja é tão importante na vida local que o aniversário do bairro não é comemorado na data de sua fundação, e sim em 29 de Setembro, dia do devotado por José Anchieta, padroeiro do bairro e da capela, que há 454 olha pelos que lá vivem, em São Miguel.

Capela de São Miguel Arcanjo

End.: Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, 10. – São Miguel Paulista – São Paulo (ao lado da estação de trem São Miguel Paulista)

Telefone: (11) 2032-3921

Site: www.capeladesaomiguel.org

Hoje São Paulo

© 2024 - Hoje São Paulo - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por ConsulteWare e Rogério Carneiro