Carlos Drummond de Andrade; fazendo da poesia uma profissão - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 19/04/2024
 
09/07/2013 - 19h19m

Carlos Drummond de Andrade; fazendo da poesia uma profissão

Livro 100 Brasileiros (2004) 
Divulgação
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Ainda bem que Carlos Drummond de Andrade seguiu o conselho de um anjo torto e foi ser gauche na vida, fazendo da poesia profissão. Nascido em Itabira (MG) em 1902, numa família de fazendeiros em decadência, estudou em Belo Horizonte e no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, de onde foi expulso pelos jesuítas por insubordinação mental.

Por insistência da família, diplomou-se em Farmácia, mas nunca exerceu a profissão. Preferia frequentar as rodas de escritores de Belo Horizonte, onde participou, aos 23 anos, da criação de A Revista, publicação literária importante para a afirmação do Modernismo mineiro. Nessa fase, que vai até a sua mudança para o Rio de Janeiro em 1934, a obra de Drummond é estreitamente ligada aos valores pregados durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Os primeiros livros, como Alguma Poesia e Brejo das Almas, trazem versos anedóticos, sintéticos e irônicos.

Em 1926, inicia atividade jornalística no Diário de Minas. A mudança para a capital revelou outra face de Drummond, que se tornou um poeta de seu tempo, politicamente engajado e disposto a usar a literatura como ferramenta de crítica social. Foi época em que conciliou a atividade poética com o serviço público, como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação.

Ligado ao Partido Comunista Brasileiro no início dos anos 40, escreveu poesias de fundo social, como Sentimento do Mundo (1940) e A Rosa do Povo (1945). Mas a indignação causada pelas desigualdades sociais em nada comprometeu o seu profundo lirismo, senso de humor e emoção contida. Muitos poemas de Drummond mostram um homem ao mesmo tempo torturado pelo passado e assombrado pelo futuro. Ora cético e melancólico, ora irônico e bem-humorado, foi também um fino crítico de costumes.

Em sua poesia, ligada à observação da relação com outros seres, o amor tem muitas vezes um gosto amargo. O amadurecimento faz com que, a partir dos anos 50, predominasse o poeta-filósofo, de versos enigmáticos, e também o cronista de sucesso, que encantava os leitores do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil. A partir de Claro Enigma (1951), Drummond voltou a registrar o vazio da vida humana e o absurdo do mundo.

Outros livros que o consagraram como o nosso maior poeta moderno foram Lição de Coisas, Boitempo, O Menino Antigo e Farewell. Todos espelham o embate que permeia toda a sua vida: de um lado o desejo de mudanças político-sociais, de outro, a simpatia por valores da tradição. Buscando refletir o seu tempo presente, sem abandonar o contexto maior da humanidade, Drummond torna-se um dos maiores e inesquecíveis poetas do Brasil. Abatido com a morte de sua filha única, Maria Julieta, Drummond morreu no Rio de Janeiro, em 1987.

 

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