Frederico II, O Moleiro, Lula e o PT - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 29/03/2024
 
29/03/2016 - 15h41m

Frederico II, O Moleiro, Lula e o PT

Germano Casais e Silva* 

Assumindo o trono da Prússia em 1740, após a morte de seu pai, o jovem Frederico, com apenas 28 anos, revelou-se bem diferente do que seu pai temia e deplorava pois, até então, o herdeiro só demonstrava interesse pelas letras, artes e ciências e pouco pelas artes marciais, principal requisito para bem sucedê-lo.

Mas não foi o que aconteceu. Em pouco tempo ele elevou a Prússia à sua maior grandeza, apoderando-se da Silésia, desmembrando a Polônia e resistindo bravamente na guerra dos Sete Anos às investidas das poderosas potências como a Rússia, Áustria e França, passando à História como Frederico, o Grande.

Grande administrador e hábil político, após ter o seu reino estabilizado com fronteiras estabelecidas e reconhecidas, decidiu voltar ao que tanto gostava em sua juventude: as letras, as artes e as ciências.

Para tanto, construiu a pouca distância de Berlim, em Potsdam, um castelo que depois iria competir com o Schonbrunn, em Viena, como aquele que mais se aproximava da suntuosidade de Versalhes. Deu o nome de Palácio de Sans-Souci ( ou seja, "Sem Preocupação", em francês).

O passo seguinte, logo posto em prática, foi convidar os sábios da época. Apenas para citar um: era figura constante o francês François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire.

Certo dia o rei, olhando o seu imenso jardim na frente do Palácio, divisou alem dele, vizinha às suas terras, uma área que, se adquirida, daria uma melhor simetria aos seus domínios particulares. Inquirindo aos seus assessores, soube que a dita área pertencia a um moleiro que, embora contatado, não queria vender e desejava apenas continuar fabricando com o seu moinho a farinha que lhe dava sustento.

Frederico ordenou então que preparasse um séquito com 20 cavaleiros, porque no dia seguinte iria comprar o terreno de qualquer jeito.

Quando o moleiro viu, no dia seguinte, aquela cavalhada com o Rei à frente, todos com roupas de gala, dirigindo-se à sua humilde morada, ficou impressionado e apressou-se a se dirigir à comitiva e saudá-los com toda a humildade.

O diálogo que houve não foi demorado. O rei ofereceu pelo terreno, sem muitas delongas, o dobro do preço, o triplo, o quádruplo, enquanto o moleiro apenas explicava que não estava a venda, que seu pai o criou neste local e ele jurou que não sairia daquela terra que pertenceu aos seus antepassados. O Rei já sem paciência lhe disse: "você sabe que eu sou o seu Rei e que posso tomar as suas terras e até, se eu quiser, não pagar nada por elas?"

Foi aí que o moleiro respondeu a Frederico II, o Grande:: " o Senhor, Majestade? tomar o meu moinho? só se não existissem juizes em Berlim!"

O Rei calou-se, refletiu por breves segundos, deu meia volta e retirou-se desistindo da compra.

Até aqui são fatos. A partir daqui, o autor deste relato se permite a imaginar o que passou pela cabeça do Rei, em pleno absolutismo na Europa ( a Revolução Francesa, início de mudanças e questionamento desse regime, só começaria a acontecer 3 anos após a morte de Frederico. Acorvadou-se? absurdo! ele podia tudo, era venerado pela posição da Prússia na Europa. Em uma possível contenda com um reles moleiro ele não devia temer. Os juízes? Ele tinha nomeado TODOS os juízes da nação. Eles lhe deviam gratidão. As leis naquela época eram consuetudinárias, não eram escritas, eram baseadas nos costumes. Com o Rei interessado, era fácil influir na sentença. Todos esses pensamentos passaram na sua cabeça em um "flash" de um segundo.

Em seguida, suponho que, em breves segundos, ele passou a avaliar as consequências a médio e longo prazo se cedesse ao primeiro impulso. Se esperasse de um juiz "gratidão", era uma prova de que o Rei não era muito criterioso nas nomeações que fazia e a nação perceberia isso, abalando a sua credibilidade. Daí em diante ninguem podia confiar plenamente na Justiça como acontecia até então. Os juizes sentenciariam motivados por sentimentos como gratidão, amizade, mesquinhez, cobiça, até chegar a interesses pecuniários. Não, não deveria macular a seriedade da sua administração e o respeito do povo. Deve ter sido essas considerações que fizeram o Rei a desistir das terras do moleiro.

Como esse artigo está ficando muito grande, eu deixo de concluir com a parte que o título menciona: "...Lula e o PT". Fica para o leitor (será que tem algum que leu até aqui?) fazer as suas reflexões e ver se existe alguma relação com o fato acima narrado.

*Germano Casais e Silva é PHD pelo Grupo Escolar Austricliano Carvalho - Senhor do Bonfim-BA

Hoje São Paulo

© 2024 - Hoje São Paulo - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por ConsulteWare e Rogério Carneiro