Mogi das Cruzes - Daquelas histórias de superação e amor que faz acreditarmos que o mundo ainda vale a pena, o engenheiro Guilherme Simões de 30 anos, marido da contadora Juliana Tozzi, de 33 anos, entende bem.
A jovem descobriu a doença em meados de junho de 2015, grávida de apenas um mês, iniciando um doloroso processo de perda dos movimentos da perna, fala e equilíbrio, sintomas da rara síndrome degenerativa do cerebelo.
Com a doença que a limitou por todo o período da gestação, a vida de esportes radicais como escalar montanhas e percorrer trilhas teve que ser interrompida.
O marido apaixonado fez o que todo homem deve fazer ao prometer estar do lado da pessoa amada, a promessa na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, foi levada ao pé da letra.
Após o tratamento limitado para não prejudicar o bebê, Tozzi deu à luz e Benjamin, primeiro filho do casal, veio ao mundo aos 7 meses, e novamente, ela teve um apoio dos familiares, para conseguir dar conta da rotina exaustiva.
Passado algum tempo, o marido, decidido, resolveu criar algo para trazer novamente o sorriso da esposa, que ele conheceu em um fretado da faculdade, e que tomou a iniciativa do primeiro beijo.
O projeto inicial contou com desenhos e a ajuda de um fabricante, porém não deu certo, e com um toque do destino, a nova oportunidade surgiu em outubro de 2015, em São José dos Campos, onde encontrou Hidel Castro Arantes, de 35 anos, que trabalha desde 2009 criando handbikes, as famosas bicicletas adaptadas.
O que mais motivou o rapaz, foi saber que o inicio de Arantes no projeto foi decorrente de uma motivação pessoal, um pedido do sobrinho que após um acidente aos 8 anos perdeu os movimentos da perna.
Com muita dedicação, Arantes e Simões, passaram a se encontrar diariamente após o expediente para buscar uma alternativa, uma vez que não tinham ideia por onde começar e muito menos quanto seria investido.
Com a prematura chegada de Benjamin em dezembro do mesmo ano, o projeto foi temporariamente suspenso e foi nesse momento que a contadora descobriu que a perda dos movimentos, devido a um câncer nos linfonodos.
Com a recente descoberta tudo que tinha que ser feito como tratamentos com fonoaudióloga, equoterapia, terapia ocupacional e psicologia, foram feitos, afim de recuperar a saúde da contadora.
Após esse tempo de recuperação, o engenheiro quis fazer bem mais para a esposa, realizar o seu sonho de voltar a escalar montanhas, e foi aí que nasceu o equipamento adaptado, carinhosamente chamado de Juliette.
A cadeira que tem apenas uma roda foi projetada especialmente para ajudar pessoas com mobilidade reduzida a passar por trilhas e pedras de difícil acesso, o equipamento que é totalmente flexível e desmontado então, foi para a sua primeira e gloriosa missão, levar Tozzi, novamente para o seu lugar habitual: desbravar a natureza.
A primeira oportunidade de um retorno foi em janeiro deste ano, onde a data especial, foi o aniversário da contadora, então o casal com a ajuda de amigos e parceiros, subiram a Pedra da Marcela, em Cunha, a 1.800 metros de altitude.
Só que neste momento, a cadeira utilizada foi a de rodas, que a todo momento era puxada por uma corda, o revezamento, foi difícil, mas a chegada e a emoção tomaram conta de todos, onde o engenheiro foi abraçado com a esposa, juntos, trilhando um só objetivo, a felicidade.
O momento só podia ser mais emocionante, com a realização da cadeira, mais potente e preparada para a trilha, a fabricação do equipamento custou cerca de R$ 1.320 em peças e com o valor final aproximado de R$ 3.250, valor esse, que ainda será, confirmado após todos os ajustes que serão feitos.
O dia mais romântico do ano, o 12 de junho, Dia dos Namorados, foi a oportunidade de o casal comemorar em grande estilo, fazendo o que mais ama e assim Simões levou Tozzi novamente ao Parque Nacional de Itatiaia para fazer o primeiro teste da Juliette.
A baixa temperatura não foi capaz de desmotivar o casal, e mesmo os termômetros constando 1º C negativo, a jovem subiu o maciço das prateleiras, superando todos os contratempos ao lado do amado.
O que não pode ser dito em palavras foi representado através de um abraço emocionante e olhos marejados, a cena de filme foi registrada por Samuel Oscar que é cinegrafista especialista em montanhas.
O vídeo postado nas redes sociais, rendeu muitas curtidas, lágrimas e gratidão, por existir pessoas que se doam para ajudar o próximo, o que resultou na entrevista do casal apaixonado como abertura do programa Fantástico e foi, sem dúvidas, um verdadeiro show da vida.
O ideal do grupo agora é conseguir divulgar através das redes sociais o projeto Montanha para Todos, que consiste em sua primeira fase entregar Juliettes gratuitamente aos Parques Nacionais, através de financiamento coletivo bancado por patrocinadores e pessoas interessadas em ajudar na divulgação da inclusão de pessoas com necessidades especiais nos esportes de montanha e no montanhismo adaptado, promovendo bem-estar e qualidade de vida aos que perderam os movimentos, se sentirem mais livres em cima dos equipamentos e assim como Juliana, se sentirem mais confiantes, o que foi confirmado pela própria: “Não adianta chorar, é preciso sorrir sempre”.