Jobim se recusa a falar sobre suposto pedido de Lula a Mendes - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 26/04/2024
 
28/05/2012 - 14h09m

Jobim se recusa a falar sobre suposto pedido de Lula a Mendes

Folhapress/Gabriela Guerreiro 
Agência Brasil/Elza Fiúza
Ex-ministro, Nelson Jobim
Ex-ministro, Nelson Jobim

BRASÍLIA, DF (Folhapress) - O ex-ministro Nelson Jobim se recusou hoje a comentar o encontro do ex-presidente Lula com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, ocorrido em seu escritório no início de abril.

Ao deixar reunião no Senado hoje, onde discutiu mudanças no pacto federativo com juristas, Jobim disse que não tem nada a declarar sobre o episódio.

"Já dei todas as declarações sobre isso. Eu não vou mais falar sobre esse assunto. Está tudo encerrado." Diante da insistência de jornalistas, Jobim disse: "desistam".

Segundo reportagem da revista "Veja", no encontro Lula teria pedido a Mendes o adiamento do julgamento do mensalão pelo STF. Em troca da ajuda, Lula ofereceu ao ministro blindagem na CPI que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e empresários.

Mendes confirmou à Folha de S.Paulo o encontro com Lula e o teor da conversa revelada pela revista, mas não quis dar detalhes. "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", afirmou o ministro.

O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, que é ex-ministro do governo Lula e ex-integrante do Supremo.

Lula disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), hoje investigado por suas ligações com Cachoeira.

Membro do Ministério Público, Demóstenes era na época um dos principais interlocutores do Poder Judiciário e de seus integrantes no Congresso Nacional. A assessoria de Lula disse que não iria comentar.

Na conversa, Gilmar ficou irritado com as insinuações de Lula e disse que ele poderia "ir fundo na CPI".

De acordo com a reportagem da "Veja", o próximo passo de Lula seria procurar o presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, também com o intuito de adiar o julgamento do mensalão.

Em recente almoço no Palácio do Alvorada, na ocasião da instalação da Comissão da Verdade, Lula convidou Ayres Britto para tomar um vinho com ele e o amigo comum Celso Antonio Bandeira de Mello, um dos responsáveis pela indicação do atual presidente do Supremo.

À Folha Britto também confirmou o convite, mas disse que não percebeu qualquer malícia em Lula e que o encontro não ocorreu.

"Estive com Lula umas quatro vezes nos últimos nove anos e ele sempre fala de Bandeirinha. Ele nunca me pediu nada e não tenho motivos para acreditar que havia malícia no convite", disse. Ele diz que a "luz amarela" só acendeu quando Gilmar Mendes contou sobre o encontro, "mas eu imediatamente apaguei, pois Lula sabe que eu não faria algo do tipo".

Na última sexta-feira, em Salvador, Ayres Britto disse que os ministros do STF "estão vacinados contra todo tipo de pressão". "Ainda está para aparecer alguém que ponha uma faca no pescoço dos ministros do STF."

LULA PODERIA SOFRER IMPEACHMENT SE FOSSE PRESIDENTE, DIZ MINISTRO

SÃO PAULO, SP (Folhapress) - O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello afirmou que, se estivesse no cargo, o ex-presidente Lula poderia sofrer um processo de impeachment por causa da reunião com o também ministro do STF Gilmar Mendes em que teria tentado adiar o julgamento do mensalão. "Se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro", disse Celso de Mello ao site Consultor Jurídico.

O ministro, que é o mais antigo do tribunal, afirmou que o episódio anômalo na história do STF. "Tentar interferir dessa maneira em um julgamento do STF é inaceitável e indecoroso. Rompe todos os limites da ética. Seria assim para qualquer cidadão, mas mais grave quando se trata da figura de um presidente da República. Ele mostrou desconhecer a posição de absoluta independência dos ministros do STF no desempenho de suas funções", disse.

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