Matar morcegos não reduz a propagação da raiva, diz estudo - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 19/04/2024
 
13/06/2012 - 09h06m

Matar morcegos não reduz a propagação da raiva, diz estudo

Agence France Presse 
©AFP / Ho
Os pesquisadores tomaram regularmente amostras de sangue de morcegos-vampiro em 20 lugares do Peru
Os pesquisadores tomaram regularmente amostras de sangue de morcegos-vampiro em 20 lugares do Peru

PARIS (AFP) - A destruição de morcegos-vampiro como medida para lutar contra a propagação da raiva, uma doença muito frequente na América do Sul, não reduz o risco de exposição ao vírus e pode ser contraprodutiva, informou um estudo realizado no Peru publicado nesta quarta-feira.

A raiva é um problema grave em vários países da América do Sul, onde além de ser um perigo para o homem também provoca a morte de milhares de cabeças de gado a cada ano.

A maioria das infecções humanas por raiva é atribuída aos morcegos vampiros, uma espécie que se alimenta de sangue.

Desde os anos 1970, os esforços para controlar a propagação da raiva no Peru focam na destruição de morcegos vampiros, sobretudo envenenando-os, partindo da hipótese de que uma redução do tamanho das colônias levaria ao desaparecimento do vírus.

Mas agora uma equipe de pesquisadores americanos e peruanos, dirigida por Daniel Streicker, da Odum School of Ecology (parte da Universidade de Georgia, Athens, nos Estados Unidos), questiona essa hipótese em um estudo publicado pela revista Proceedings da Royal Society britânica.

Os pesquisadores tomaram regularmente amostras de sangue de morcegos-vampiro em 20 lugares do Peru durante um período de 40 meses e também recolheram dados sobre o tamanho das colônias (de 16 a 444 indivíduos) e sobre a frequência das operações de destruição.

Os pesquisadores descobriram que o vírus da raiva estava presente em todas as colônias, independentemente de seu tamanho.

"Isso é importante, porque se não existe relação entre a densidade da população de morcegos e a raiva, reduzir a população de morcegos não reduzirá a transmissão da raiva nessas populações", explicou Streicker.

A equipe de pesquisa também concluiu que nas regiões onde esses animais foram eliminados de forma esporádica aumentou a proporção de morcegos expostos à raiva.

As colônias onde os morcegos foram eliminados regularmente tinham por sua vez uma taxa de exposição "levemente menor" e as colônias nas quais nunca se havia destruído animais tinham as taxas de exposição mais baixas.

Esta constatação poderá ter várias explicações, em particular o fato de que o veneno mataria apenas os morcegos adultos, que podem ser imunes à raiva, mas não os mais jovens.

"Quando matam os morcegos adultos, que podem ser imunes, estão dando lugar a morcegos jovens vulneráveis", disse Streicker.

Os pesquisadores também falam do "efeito vazio", que faria os indivíduos deslocarem-se das colônias vizinhas para encher o espaço vacante.

Os autores esperam que esse estudo sirva para ajudar as autoridades peruanas a colocar em andamento estratégias baseadas em realidades científicas para lutar contra a raiva, mas advertiram que ainda estão "nas primeiras fases" da pesquisa.

A cada ano, mais de 50.000 pessoas morrem de raiva no mundo.

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