Brasília - O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse hoje (29) que o governo está acelerando a busca de um diagnóstico mais preciso sobre o movimento Black Bloc no Brasil para ter uma atuação mais eficaz contra ações de vandalismo durante manifestações populares no país. Segundo ele, é preciso ir à raiz do problema para resolvê-lo.
“Estamos em diálogo com a polícia, com as autoridades dos estados e também com a sociedade, com os movimentos juvenis, buscando ter rapidamente esse diagnóstico porque a simples criminalização imediata não vai resolver”, disse Carvalho.
Segundo o ministro, a polícia deve fazer o combate à destruição, mas é preciso conhecer mais o movimento Black Bloc que vem atuando nos protestos pelo país desde junho. Ele disse que uma das maiores dificuldades é ausência de interlocutores do movimento para dialogar com o governo.
“A linguagem aparente, insisto, aparente, é muito da destruição, da negação. Agora nós precisamos de alguma forma ter alguma ponte. Estamos buscando com muita força esse diálogo para que consigamos achar uma saída eficaz porque a repressão é necessária, mas só reprimindo não vamos resolver na profundidade o problema”, disse.
Carvalho disse que concorda com a afirmação de algumas pessoas sobre a população ter ficado, de certa forma, “refém” do movimento. “O próprio esvaziamento das manifestações mostrou isso. A população começou a recuar frente à violência”, disse. “O que nós queremos é impedir a violência, mas, ao mesmo tempo, ir à raiz do problema para entender essa questão e tomar medidas que resolvam”.
Black Bloc é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual pessoas que têm afinidades, mascaradas e vestidas de preto, se reúnem durante as manifestações. O grupo tem atuado principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
BLACK BLOC FOI TEMA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA NA CÂMARA
Brasília (Agência Brasil/Aline Valcarenghi) - A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados discutiu no dia 23 de outubro, em audiência pública, a atuação do Black Bloc em manifestações populares no país. De acordo com a professora de relações internacionais da Universidade de São Paulo, Esther Gallego, a violência do grupo é um sintoma de uma “doença institucional”. "Eles estão falando alto e claramente sobre as insatisfações dos jovens brasileiros", disse.
Black Bloc é o nome dado a uma estratégia de manifestação e protesto anarquista, na qual pessoas que têm afinidades, mascaradas e vestidas de preto, se reúnem durante as manifestações. O grupo tem atuado principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Desde o início das ações violentas dos blacks blocs, Esther Gallego vem conversando com alguns deles. Segundo a professora, o grupo é formado por jovens de classe média baixa, maduros politicamente e que querem uma mudança estrutural no sistema político brasileiro.
“Eles falam que estão totalmente insatisfeitos com a política e como o governo não os escuta. Eles usam a violência para chamar atenção. Não acreditam em nada e não se sentem representados pelos políticos”, disse Esther Gallego. Para a professora, a violência da polícia e dos blacks blocs está aumentando e cada vez mais dificultando o diálogo.
Para Gustavo Romano, advogado e coordenador do blog Para Entender Direito, da Folha de S.Paulo, nada pode ser feito se não se souber o que eles querem, e isso não está claro. “Sem a violência, eles não teriam se tornado atores políticos. Mas, para a democracia, isso não funciona", disse.
Na avaliação de Romano, os Parlamentos municipais, estaduais e federal devem entender que, se não trouxerem essas pessoas para o sistema político, o país sempre vai passar por esse tipo de manifestação. "Essas pessoas acham que o Parlamento não as representa. Nós temos que encontrar mecanismos para dar voz a elas”, ressaltou.
"Mesmo aqueles que agiram de forma criminosa podem ter reivindicações legítimas, porque, embora o método que escolheram seja inadequado, para não dizer criminoso, o que eles querem pode ser a expressão do anseio ainda incompreendido do resto da sociedade que está silente", completou Romano