Novo presidente do Paraguai quer boa relação com o Brasil - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 23/04/2024
 
23/06/2012 - 16h20m

Novo presidente do Paraguai quer boa relação com o Brasil

Agência Brasil/Renata Giraldi, Enviada Especial 
Agência Brasil/Marcello Casal Jr.
Novo presidente paraguaio disse que vai respeitar direitos dos brasileiros que vivem no país
Novo presidente paraguaio disse que vai respeitar direitos dos brasileiros que vivem no país

Assunção (Paraguai) – Na segunda entrevista coletiva após tomar posse, o novo presidente do Paraguai, Federico Franco, escolheu o Brasil como tema principal. Franco disse hoje (23) que espera manter com o país vizinho e a presidente Dilma Rousseff relações harmônicas, assim como garantiu que preservará os direitos e a segurança dos brasiguaios (agricultures brasileiros que moram em território paraguaio). Ele avisou ainda que aguarda da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) apoio para governar.

“Temos esperanças de manter as relações harmônicas e proporcionais com o Brasil”, destacou ele, que respondeu a várias perguntas de jornalistas brasileiros. Franco não acredita em sanções por parte do Brasil ao Paraguai. “Não acredito que o Brasil aplicará sanções, pois os mais afetados seriam os empresários brasileiros que investem no Paraguai, principalmente, em Ciudad del Este”, disse. “Eu descarto [o risco de sanções]. Sou uma pessoa otimista. Há muitos empresários brasileiros investindo hoje no Paraguai”, reforçou o presidente empossado ontem (22).

Ao longo dos dez minutos de entrevista, Franco ratificou que o “Paraguai vive uma situação de normalidade” em resposta ao Brasil e aos demais países vizinhos, que levantaram dúvidas sobre a lisura do processo que levou à destituição do então presidente Fernando Lugo. Mais de três vezes, ele disse que o processo seguiu os preceitos constitucionais.

Uma das principais tensões entre os dois países é o tratamento dispensando pelas autoridades paraguaias aos brasileiros. Cerca de 6 mil brasileiros, que migraram ao Paraguai para investir em terras, reclamam de discriminação, ataques frequentes dos carperos (agricultores sem terra de origem paraguaia) e falta de apoio do governo.

Franco disse que nos 11 meses que ficará à frente do governo apoiará os brasiguaios. “Esses brasileiros que são cidadãos paraguaios terão um tratatamento preferencial. Certamente esse governo [referindo ao ex-presidente Fernando Lugo] foi o que mais nacionalizou cidadãos brasileiros radicados no Paraguai. Eles [os brasiguaios] podem ficar seguros sobre a preservação de seus direitos”, destacou ele.

Ao ser perguntado se pretende ir à Cúpula do Mercosul, em Mendoza, na Argentina, na próxima semana, Franco indicou que deverá enviar o chanceler José Félix Fernández Estigarribia para representar o Paraguai. “Minha prioridade agora é arrumar a casa e dar tempo para o Mercosul analisar a situação”, completou o presidente.

COMPROMISSOS COM ITAIPU SERÃO HONRADOS, DIZ FRANCO

Assunção, Paraguai (Agência Brasil/Renata Giraldi, Enviada Especial) – O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, disse hoje (23) que o governo honrará todas as responsabilidades em relação à empresa Itaipu Binacional, inclusive pagando as dívidas, assegurando, assim, o abastecimento no país e as boas relações com o Brasil. Segundo ele, essa é uma das suas prioridades. Nos próximos dias, Franco pretende anunciar o nome do novo dirigente paraguaio da empresa.

“Vamos assumir as dívidas, cumprir todas as responsabilidades, e fortalecer as relações com todos os nossos vizinhos latino-americanos”, disse, na segunda entrevista coletiva depois de tomar posse ontem (22) à noite. Na entrevista, o presidente se concentrou em temas relacionados ao Brasil. “[Honrar os compromissos] é a amostra mais sincera de nossa amizade.”

As questões financeiras envolvendo a Usina de Itaipu dividem o Brasil e o Paraguai. Os paraguaios exigem reajustes das tarifas pagas pelos brasileiros e dizem que há uma “dívida ilegítima” a ser paga. Os brasileiros cobram a dívida paraguaia.

Em janeiro deste ano, a delegação paraguaia no Parlamento do Mercosul (Parlasul) advertiu sobre um suposto "agravo financeiro" em Itaipu que prejudicava o país. A delegação paraguaia mencionou uma "dívida ilegítima", pois há alguns anos, a pedido do Brasil, a tarifa da energia não aumentou, como estabelece o Tratado de Itaipu (firmado pelos dois países em 1973), para que os custos de operação da hidrelétrica sejam cobertos.

O Paraguai e o Brasil são sócios-proprietários de Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo, construída no Rio Paraná, que estabelece a fronteira entre os dois países. O Brasil consome a maior parte da energia gerada, o que reforça os argumentos paraguaios sobre a cobrança de dívidas.

Há três meses, o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek, disse que não trabalhava com a hipótese de o governo brasileiro recusar a proposta do Paraguai de reajuste do valor que a Eletrobras e a empresa paraguaia Administração Nacional de Eletricidade (Ande) pagam pela energia fornecida pela usina hidrelétrica binacional.

Segundo Samek, o valor da tarifa não é reajustada há três anos, graças, em parte, à valorização do real e do guarani, a moeda paraguaia, em relação ao dólar. Em fevereiro, o Paraguai apresentou ao governo brasileiro uma proposta de elevar, de US$ 22,60 para US$ 24,30 quilowatt/mês, o valor pago pela Eletrobras e pela Ande à Itaipu, argumentando que o reajuste não necessariamente acarretaria reflexos sobre os preços cobrados ao consumidor final.

O percentual de aumento foi aprovado pelo Centro de Custo de Itaipu e apresentado ao Conselho de Administração da empresa, em outubro de 2011. Samek lembrou que o valor da tarifa é estabelecido levando em conta os componentes previstos no Tratado de Itaipu.

DILMA SERÁ PROCURADA PARA DESFAZER MAL-ESTAR

Assunção, Paraguai (Agência Brasil/Renata Giraldi, Enviada Especial) – O presidente recém-empossado do Paraguai, Federico Franco, quer evitar o desconforto com os países vizinhos, principalmente o Brasil e o Uruguai. Determinado a desfazer o mal-estar causado pela destituição do então presidente Fernando Lugo, Franco pretende procurar nos próximos dias a presidenta Dilma Rousseff e o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica. Um dos receios de Franco é o eventual rompimento da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) com o Paraguai.

Franco também se preocupa com a questão energética, uma vez que a Usina Itaipu Binacional é fundamental para o abastecimento de energia para o Paraguai e a economia do país. Segundo assessores, o ministro das Relações Exteriores, José Félix Fernández, vai procurar o chanceler brasileiro, Antonio Patriota.

Ontem (22), no final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, Dilma disse que acompanha de perto e com atenção as mudanças no Paraguai. Porém, vários ministros manifestaram dúvidas sobre o processo de impeachment movido contra Lugo pela rapidez e a forma como ocorreu. Em apenas 24 horas, ele foi destituído do poder.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse ontem que a impressão inicial que o governo brasileiro tinha era que havia ocorrido um golpe de Estado no Paraguai, pois o processo “foge do senso de procedimento geral de Justiça".

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse ter ficado impressionado com a rapidez do processo envolvendo Lugo. Segundo ele, foi um “processo incompatível com as regras do contraditório e da ampla defesa”. Até ontem à noite, os chanceleres da Unasul estavam em Assunção conversando com as autoridades paraguaias.

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