Brasília – A presidente Dilma Rousseff aceitou o pedido de demissão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. O representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), embaixador Luiz Alberto Figueiredo irá assumir o cargo.
Em nota à imprensa, a presidente Dilma Rousseff anunciou a indicação de Patriota para a Missão do Brasil na ONU e agradeceu a atuação do ex-ministro "nos mais de dois anos que permaneceu no cargo". Nesta tarde, a presidente se reuniu com Antonio Patriota, no Palácio do Planalto, por cerca de 50 minutos.
A previsão é que Figueiredo assuma o cargo até a próxima sexta-feira (30) e acompanhe a presidente Dilma neste fim de semana para Cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Paramaribo, capital do Suriname, que irá marcar a volta do Paraguai à Unasul.
Patriota deixa o ministério após uma ação que resultou na saída do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira na Bolívia, onde ficou abrigado por quase 15 meses, e o ingresso dele no Brasil. Uma das lideranças de oposição ao governo de Evo Morales, Molina pediu asilo político ao Brasil, alegando perseguição política. Ele aguardava o salvo-conduto, para deixar o país, mas que foi negado pelas autoridades bolivianas que alegavam que o parlamentar responde a processos judiciais no país.
Com a saída da embaixada, Molina está em Brasília na casa de seu advogado. O diplomata de carreira e encarregado de negócios na Bolívia Eduardo Saboia é apontado como principal responsável pela saída do senador boliviano. O governo boliviano cobra explicações e argumenta que o senador Molina deixou o país como um "criminoso comum", pois tem ordem de prisão decretada e uma sentença condenatória de um ano por causar prejuízos econômicos ao Estado boliviano.
PATRIOTA SERÁ REPRESENTANTE DO BRASIL NA ONU
Brasília (Agência Brasil/Renata Giraldi) – Após dois anos e oito meses como ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, de 59 anos, deixa o cargo para ser o novo representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). Com 34 anos de carreira, Patriota antes de ser nomeado chanceler foi secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores. Filho de chanceler, Patriota construiu uma carreira baseada na disciplina, na articulação e em negociações multilaterais.
O ex-chanceler conheceu a presidente Dilma Rousseff quando era embaixador do Brasil em Washington (Estados Unidos), de 2007 a 2009. Anteriormente, Patriota foi subsecretário-geral Político do Ministério das Relações Exteriores, de 2005 a 2007, e secretário de Planejamento Diplomático do Ministério das Relações Exteriores, em 2003.
Com perfil de negociador, Patriota tem um estilo sóbrio. Recentemente, o ex-chanceler chamou a atenção pela firmeza com que tratou as denúncias de espionagem envolvendo agências norte-americanas e cidadãos brasileiros. Ao lado do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, Patriota cobrou explicações dos Estados Unidos e o fim da espionagem.
Como diplomata de carreira, Patriota serviu também na missão permanente do Brasil em organismos internacionais em Genebra, na Suíça (1999-2003). Ele foi, por dois anos, representante alterno na Organização Mundial do Comércio (OMC) e também integrou a delegação brasileira no Conselho de Segurança da ONU (1994-1999).
Na ONU, como representante do Brasil, Patriota deverá participar de discussões como a busca por consenso em situações de crise. Atualmente, a comunidade internacional está em alerta devido ao agravamento da situação na Síria, em decorrência da suspeita de uso de armas químicas contra civis, e do Egito deflagrado pelas manifestações violentas e confrontos constantes.
NOVO MINISTRO FOI DESTAQUE DURANTE RIO+20
Brasília (Agência Hoje/Renata Giraldi) – O novo ministro das Relações Exteriores é o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, de 57 anos. Diplomata de carreira, Figueiredo Machado foi o negociador-chefe da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho do ano passado, no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele se destacou pela habilidade e conquistou a confiança da presidente Dilma Rousseff pela disposição em negociar pacientemente com os que resistiam a acordos na Rio+20.
De personalidade introspectiva, Figueiredo Machado é contido nas palavras e é apontado como um estrategista. Acostumado a longas negociações, o novo chanceler não costuma demonstrar cansaço, nem impaciência. Ele e Dilma se conheceram na Conferência das Partes (COP), na Dinamarca, quando a presidente ainda estava na Casa Civil.
Figueiredo Machado tem uma longa trajetória com negociações multilaterais e bilaterais referentes não só às questões ambientais, como também à área de energia. Na Rio+20, ele chamou a atenção pelo bom-humor, mesmo diante de perguntas embaraçosas e repetitivas.
Após a Rio+20, Figueiredo Machado foi nomeado representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU). A nomeação para a ONU é considerada, entre os diplomatas, valorização do profissional, pois a entidade é o principal órgão internacional de negociações multilaterais.
A ONU também obriga os representantes das delegações dos diversos países a travar acordos bilaterais e específicos. Assuntos como paz, segurança e meio ambiente são apenas alguns dos vários colocados em debates constantes no órgão.
A sede em Nova York engloba a presidência da ONU, a Secretaria-Geral e o Conselho de Segurança. Porém, há, ainda espaços de discussão e definições em Viena (Áustria), Genebra (Suíça), Nairóbi (Quênia) e Haia (Países Baixos).
A diplomacia brasileira costuma ser elogiada por se caracterizar pela construção de consensos, pelo fim das polarizações e pela manutenção constante de diálogos e acordos. Nos últimos anos, as questões relativas à defesa de direitos humanos ganharam mais força para a delegação brasileira, que ressalta a importância de preservação, manutenção e defesa desses princípios.
ADVOGADO COMPARA SITUAÇÃO DO SENADOR BOLIVIANO À DE SNOWDEN E ASSANGE
Brasília (Agência Brasil/Luciano Nascimento) - O advogado do senador boliviano Roger Pinto Molina, Fernando Tibúrcio Peña, comparou hoje (26) a situação do seu cliente à de Julian Assange e Edward Snowden. "Ele é um exilado político, então ele continua na condição de exilado: a mesma situação que hoje tem o Snowden, na Rússia, ou o Julian Assange, no Equador. É exatamente a mesma", disse.
O australiano Julian Assange buscou abrigo na Embaixada do Equador, em Londres, na tentativa de evitar a extradição para a Suécia. As autoridades suecas querem interrogá-lo sobre delitos de ordem sexual. Porém, Assange, está prestes a completar um ano abrigado na embaixada equatoriana na capital inglesa. Ele teme que a Suécia autorize sua extradição para os Estados Unidos, onde deve responder sobre o vazamento de informações consideradas sigilosas, por meio do portal WikiLeaks.
O ex-consultor norte-americano Edward Snowden, de 29 anos, que denunciou, em junho, um esquema de espionagem a cidadãos dos Estados Unidos e estrangeiros por agências secretas de seu país. A denúncia provocou reações no Brasil e no mundo. Acusado de espionagem pelos Estados Unidos, Snowden está exilado temporariamente na Rússia.
O senador boliviano, que é opositor do presidente Evo Morales, ficou abrigado por 15 meses na Embaixada do Brasil em La Paz. No sábado (24), o parlamentar deixou a embaixada com o auxílio do diplomata Eduardo Saboia. O boliviano chegou nesse domingo (25) ao país por Corumbá (MS), onde se encontrou com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Os dois voaram em seguida para Brasília.
Nesta segunda-feira, o procurador-geral interino da Bolívia, Roberto Ramirez, disse que o Ministério Público boliviano estuda pedir a extradição de Pinto Molina. "Impossível isso, não tem a menor possibilidade, não tem nenhum embasamento legal para isso", disse Tibúrcio. Amanhã (27), o senador vai ser ouvido na Comissão de Relações Exteriores do Senado.