Protestos contra os EUA prosseguem no Afeganistão e dois americanos são mortos - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 26/04/2024
 
25/02/2012 - 15h21m

Protestos contra os EUA prosseguem no Afeganistão e dois americanos são mortos

AFP / Gulrahim 
AFP / Gulrahim
Dois membros da Isaf, a força da Otan no Afeganistão, morreram dentro do ministério do Interior
Dois membros da Isaf, a força da Otan no Afeganistão, morreram dentro do ministério do Interior

CABUL (AFP) - Dois americanos da Otan morreram neste sábado em um tiroteio no ministério do Interior, em Cabul, e outras quatro pessoas foram mortas numa tentativa de ataque a um complexo da ONU em Kunduz (norte) dentro dos protestos antiamericanos realizados há cinco dias por causa da queima de exemplares do livro sagrado muçulmano Alcorão em uma base militar americana.

Os talibãs reivindicaram as mortes, mas se referiram a quatro americanos.

"O herói Abdul Rahman matou quatro assessores americanos no ministério do Interior (...) em reação à falta de respeito dos invasores pelos objetos sagrados do Islã, em particular, no último caso, a queima dos Alcorões na base de Bagram", afirma um comunicado.

Os dois membros da Isaf, a força da Otan no Afeganistão, morreram dentro do ministério do Interior, segundo comunicados do ministério afegão e da Otan.

"Em função de um incidente, dois de nossos colegas internacionais foram mortos no interior do ministério", afirmou o ministério do Interior afegão, enquanto que a Isaf, em outro texto, afirmou que "um indivíduo virou sua arma contra membros da Isaf em Cabul (...) matando dois".

"Houve um tiroteio no centro de comando do ministério do Interior e dois americanos morreram nas mãos da polícia afegã", contou uma fonte governamental, que pediu anonimato e não deu maiores detalhes.

Algumas informações afirmam que o tiroteio foi resultado de uma discussão, mas detalhes do incidente ainda não estão disponíveis.

Em função das duas mortes, o general John Allen, que chefia a Isaf, decidiu retirar todos os membros da Isaf que trabalham nos ministérios afegãos.

"Por motivos de proteção evidentes, tomei medidas imediatas para retirar todo o pessoal da Isaf que trabalha em ministérios dentro e fora de Cabul", declarou o general Allen, lembrando que "a parceria junto ao governo do Afeganistão continua".

O ministério das Relações Exteriores britânico também anunciou a retirada temporária de todo o seu pessoal das instituições governamentais em Cabul.

"Como medida temporária, a embaixada britânica irá retirar seus conselheiros civis das instituições (governamentais afegãs) em Cabul", disse à AFP uma porta-voz do Foreign Office, informando que a medida será cumprida imediatamente.

Manifestações antiamericanas agitam há cinco dias o Afeganistão, depois que cópias do Alcorão foram queimadas por ordem de um chefe militar na base americana de Bagram, 60 km ao norte de Cabul.

Vinte e oito pessoas morreram e mais de uma centena ficou ferida em cinco dias de confrontos no país.

Em Kunduz, capital da província de mesmo nome, uma tentativa de ataque ao complexo da ONU deixou quatro mortos e 71 feridos, segundo balanço ainda provisório.

Segundo várias testemunhas, centenas de manifestantes jogaram pedras contra a polícia que protegia o complexo da ONU.

"Houve confrontos entre manifestantes e a polícia, que os impediu de entrar no recinto", contou à AFP Sarwar Husaini, porta-voz da polícia em Kunduz.

"O balanço que temos até agora por parte dos hospitais é de quatro mortos e 56 feridos na manifestação de hoje", declarou à AFP Sahad Mokhtar, que dirige o departamento de Saúde Pública em Kunduz.

Denise Jeanmonod, porta-voz da missão da ONU no Afeganistão, a UNAMA, confirmou o que chamou de incidente.

Em várias zonas de Kunduz era possível ver colunas de fumaça, observou o correspondente da AFP. Foram queimadas lojas e carros em toda a cidade, segundo o porta-voz da polícia.

Em Mihtarlam, 15 manifestantes ficaram feridos a bala e foram levados para os hospitais da cidade.

Também houve uma manifestação violenta em Lagham, na qual participaram cerca de 2.000 pessoas.

Na madrugada de terça-feira passada, vários exemplares do Alcorão, confiscados de presos da maior base americana no Afeganistão, em Bagram, 60 km ao norte de Cabul, foram incinerados porque, segundo autoridades americanas, serviam para esconder mensagens entre prisioneiros.

O presidente americano Barack Obama enviou uma carta de "desculpas das mais sinceras" ao povo afegão pelo "erro", cometido por "inadvertência" e por "ignorância", mas nem isso acalmou os ânimos dos afegãos.

Uma delegação nomeada pelo governo, composta principalmente por personalidades religiosas e que irá investigar o caso, pediu na quinta-feira à noite que os "cidadãos muçulmanos afegãos não recorram aos protestos, que pode permitir ao inimigo (insurgentes) se aproveitar da situação".

As mesmas palavras foram utilizadas pelo comandante da Isaf, o general John Allen, que pediu aos "membros da Isaf e (aos) afegãos paciência e auto-controle", enquanto os "fatos sobre os incidentes continuam a ser reunidos".

O sentimento anti-americano nunca foi tão forte entre a população em 10 anos de conflito. Um sentimento que se prolifera por causa das ações da Otan que mata civis com relativa frequência e que está envolvida em vários casos recentes de profanação ou outros atos considerados blasfemos.

Em Cabul, vários estrangeiros, desde quinta-feira, obedecem as conselhos de segurança e não saem de casa.

A restrição de movimento das pessoas expatriadas é justificada pelo precedente incidente de Mazar-i-Sharif (norte), onde sete funcionários expatriados da ONU foram massacrados em seus escritórios no início de abril, após a queima pública de um Alcorão por um pastor extremista americano nos Estados Unidos. Era uma sexta-feira.

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