São Paulo (Agência Hoje) - É um estudo muito interessante o que trata de como as pessoas se apropriam dos espaços construídos. Para começar, a Arquitetura deve traduzir as expectativas e necessidades de acordo com o uso pretendido do espaço projetado.
Quando professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, o saudoso Ariano Suassuna dizia, sobre o caráter e a personalidade das construções, que o caráter é o que faz você identificar as características de um templo em um templo, de uma escola em uma escola e de uma casa em uma casa. Já a personalidade da obra é quando, além disso, você consegue reconhecer a igreja de Osacar Niemeyer, a escola de Lelé (João Filgueiras Lima) e a casa de Acácio Gil Borsoi.
Quanto à alma da obra - e aqui já é por minha conta - vai surgir apenas quando ela for ocupada e os fiéis entrarem para a celebração no templo, as crianças chegarem para as aulas do dia e a família se reunir para o almoço em torno da mesa da cozinha.
A alma da obra de arquitetura resulta das escolhas que os usuários fazem e de como eles imprimem ao espaço a sua intenção de ocupação. Quando a dona da casa escolhe o tecido para a cortina da sala, quando a adolescente pendura o poster do astro de rock na parede do quarto e quando o pai escolhe o melhor lugar para deixar o chinelo.
E não é somente da residência que estamos falando. Em graus e hierarquias diferentes, os prédios e espaços públicos, inclusive as cidades, parques e jardins, também possuem almas definidas por quem os usa.
A maneira como transparece essa intenção de uso, inconsciente e intuitiva, é o que finaliza o ciclo iniciado na concepção do projeto. O arquiteto só pode avaliar o sucesso do seu projeto após conhecer e entender como foi a apropriação do espaço projetado, depois de ocupado pelo usuário final da sua obra.
* Sandra Vieira de Mello, CAU A16373-2 é Arquiteta e Urbanista. Contribuições para esta Editoria podem ser encaminhadas para o e-mail: hoje.sandra@gmail.com