Brasília (Agência Hoje) - Pela primeira vez, desde que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff chegou ao Senado, os parlamentares da oposição admitiram a possibilidade real de conseguir os votos necessários para retirá-la do Governo por até 180 dias, como estabelece a Constituição.
"Os crimes praticados são gravíssimos, são de conhecimento pleno do povo brasileiro e não podem ser ignorados pela classe política", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), para quem todos os passos seguidos até agora na Câmara e no Senado obedecem as determinações fixadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Para os parlamentares da oposição, já existem votos suficientes para o afastamento de Dilma por até 180 dias. Segundo eles, dos 81 senadores, 51 já confirmaram voto favorável à saída de Dilma, enquanto 20 são contra e 10 estão indecisos. Como são necessários 41 votos para retirar a presidente do poder, há uma sobra de nove "para prevenir surpresas".
Presidente e Relator
Nesta terça-feira, 26, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi eleito presidente da Comissão Especial do Impeachment no Senado e o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) ficou com a relatoria do processo.
Com a abertura da primeira sessão dos trabalho, começou a contar o prazo para que a comissão conclua e vote, por maioria simples, um parecer indicando ou não a continuidade do processo. Este mesmo texto, independentemente do resultado no colegiado, será submetido ao plenário do Senado, onde precisa da mesma maioria simples entre os 81 senadores da Casa.
Se a admissibilidade do processo for aprovada em plenário, Dilma é imediatamente afastada do cargo por 180 dias.
Temer Cauteloso
O vice-presidente da República, Michel Temer, teve mais um dia de reuniões com aliados, conversas com integrantes do PMDB e de outros partidos e continuou recebendo sugestões para a formação de um eventual governo, caso Dilma Rousseff seja afastada pelo Senado em maio e ele assuma a Presidência, como consequência do processo de impeachment.
"Terei de ser repetitivo. Vou esperar o Senado Federal", disse aos jornalistas, fazendo referência a duas ocasiões na semana passada e outra na segunda-feira, quando disse que aguardará “silenciosa e respeitosamente” a análise dos senadores sobre a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma.
O vice-presidente voltou a conceder entrevistas a jornalistas estrangeiros para rebater a tese de que o processo de impeachment é um golpe. "O processo de impeachment é legal e constitucional. Por isso, eu digo que não há golpe, nem tentativa de violar a Constituição".
Temer mantém a cautela, mas foi incisivo ao afirmar que "sessenta e dois por cento da população brasileira são favoráveis ao impeachment. Então, que conspiração eu estou liderando? Eu tenho poder para convencer 367 deputados e mais da metade da população brasileira? Acho que é mais um equívoco", afirmou ao canal de TV norte-americano CNN e a enviados especiais de jornais da Espanha, Alemanha, França, Reino Unido e Japão.