Veja a importância do monitoramento das barragens para evitar acidentes - Hoje São Paulo
São Paulo, SP, 29/04/2024
 
04/12/2015 - 15h24m

Veja a importância do monitoramento das barragens para evitar acidentes

Agência Hoje/José Bartolomeu Ferreira Fontes/Orjana Carvalho Alcantara Silva 
Agência Brasil/Antonio Cruz
Recentemente, rompimento de barragem de mineração causou enxurrada de lama em Mariana, Minas Gerais
Recentemente, rompimento de barragem de mineração causou enxurrada de lama em Mariana, Minas Gerais
  • Dados batimétricos na imagem de satélite e gráfico em 3D da barragem
  • Perfil do sonar de varredura lateral mostrando estruturas verticais submersas
  • Perfil batimetrico dos rejeitos e estrutura da barragem

São Paulo - No Brasil, o número de acidentes envolvendo barragens tem aumentado nos últimos anos. Para que novos desastres como o de Mariana sejam evitados, os diversos tipos de barragens requerem monitoramento contínuo visando a segurança e integridade de sua estrutura.

Os riscos atrelados ao rompimento de barragens são, na maioria dos casos, de grandes proporções, envolvendo riscos a vida humana, riscos materiais, ambientais e sociais. Além disso, sua posição geográfica favorece a propagação do desastre em grande escala, pois geralmente encontram-se situadas em vales de rios, córregos e afluentes a montante de cidades que são as imediatamente atingidas e na maioria das vezes sem tempo de evacuação total das mesmas.

Utilizadas para acumular água ou decantar materiais, as barragens causam impacto desde a sua construção. Dependendo do tamanho e do volume a ser represado, uma grande área de vegetação precisa ser suprimida ou simplesmente alagada, muitos habitats acabam sendo destruídos pela inundação e em alguns casos cidades e propriedades precisam ser desocupadas para tal.

Várias são as causas de acidentes envolvendo barragens, dentre elas projetos mal elaborados (incluindo o local escolhido), barragens construídas com materiais impróprios, falta de monitoramento apropriado, rupturas ocasionadas por falta de manutenção, acúmulo de material sobrecarregando a estrutura.

Para se estabelecer um controle do uso da barragem e da segurança da mesma, são necessários diversos tipos de monitoramentos visando à gestão e o controle do sistema da barragem. Para tal, devem ser executadas inspeções regulares nas estruturas das mesmas, controle da descarga nos drenos e vertedouros, levantamentos batimétricos para ver a variação da profundidade da coluna d’água bem como o volume de água retido pela barragem, variação do volume de material sedimentar retido no sistema, etc.

Além disso, métodos de monitoramento utilizando sensoriamento remoto (imagem de satélite) tem sido muito eficiente para controle da distribuição espacial, bem como, simulações de enchente. Outro método ainda não muito utilizado para este fim, são os sonares de varredura lateral (figura ao lado), que possibilitam realizar uma “ultrasonografia” do fundo e do talude da estrutura da barragem, mostrando se há fendas ou materiais que comprometam a sua estabilidade e segurança.

Com levantamentos do fundo das barragens pode-se ter um controle dos volumes e perfis dos materiais acumulados e com isso comparar ao longo do tempo a tendência dos mesmos e registrar o histórico do avanço do material em direção do barramento. Com esta sequência de dados é possível estabelecer gráficos e curvas de tendências para as simulações e gerenciamento de riscos.

Nesses monitoramentos, determinar a quantidade de sedimentos já dentro do sistema da barragem e a quantidade que vem sendo descarregada dentro dele é fundamental. Uma vez detectada que a capacidade máxima de sedimentos está sendo alcançada, três medidas podem ser tomadas: aumentar a barragem (o que envolve na maioria dos casos uma perda de área e de vegetação nas margens), dragar o rejeito para um novo processo de extração ou desativar a unidade canalizando para outro reservatório o material que seria descarregado na mesma.

Tendo como exemplo uma das mais importantes reservas minerais brasileiras, detentora das maiores jazidas de ferro do mundo além de outros depósitos importantes e economicamente valiosos, a Mina de Carajás no Estado do Pará possui dentro de seu complexo seis barragens utilizadas para diversos fins. Sendo quatro para sedimentos, uma para o ajustamento de água e uma para a recuperação de minério de ferro. Todas estas barragens possuem um sistema de gestão de barragem, em que é executada uma série de frequentes observações por piezômetros, linígrafos, levantamentos batimétricos, inspeções periódicas e controle da descarga dos drenos e vertedouros.

Ao longo de dez anos de monitoramento teve início a operação de dragagem de alguns desses reservatórios. Processo este acompanhado por levantamentos batimétricos frequentes e monitoramento em tempo real das dragas na execução dos trabalhos. O processo de dragagem dos reservatórios normalmente visa o aprofundamento das barragens e por vezes alcançar as condições originais da mesma ocasionando o menor impacto ambiental possível, uma vez que com a dragagem não há necessidade do aumento do barramento e, por conseguinte a extensão da área alagada.

Quanto ao ocorrido em Mariana, é difícil calcular precisamente o tamanho do dano futuro. Mas é importante ressaltar que para que um acidente destes aconteça é necessária uma série de erros. Na Lei Nº 12.334, DE 20 DE SETEMBRO DE 2010, que estabelce a Política Nacional de Segurança de Barragem, (PNSB) e cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB) o plano de gestão é bastante abrangente e completo. Os levantamentos anteriormente citados são complementares ao plano de gestão, mas já adotados em várias barragens nacionais, o que poderia levar a uma conclusão do ocorrido caso existisse um histórico de levantamentos como estes ou pudesse ter sido evitado se tomadas as providências necessárias.

Todos os esforços em termos de investigações científicas, de manutenção e investimentos financeiros são válidos e extremamente necessários para manter a segurança em micro e macro escala. Principalmente quando envolve uma atividade que pode oferecer tanto risco como esta mas em contrapartida é de extrema importância econômica, social e ambiental. Todos os dispositivos tecnológicos disponíveis devem ser utilizados.

Sem entrar em detalhes técnicos, sempre que um desastre como este ocorre e envolve vítimas é um sinal que os planos de alerta e evacuação não foram eficientes, suficientes ou não existiram. Quanto aos danos ambientais, é difícil estimar o tamanho do prejuízo e quanto tempo a natureza levará para compensar esse desequilíbrio.

Referências

Relatório de Monitoramento Batimétrico e Cálculo de Volume de Água Barragem do

Geladinho Sistema Ferrosos, Relatório de Batimetria, Edição 12/09. 02-060, 2009

Revista Minérios & Minerales, Edição 308 de 2008

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